Belo Horizonte só tem 32 vagas disponíveis nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) específicas para pacientes de Covid-19 na rede pública municipal. Das 414 que existem, 382 estão em uso. É maior número absoluto de pacientes internados em leitos de UTI da prefeitura de BH desde o início da pandemia – o que representa 92% de ocupação. Os dados são da Prefeitura de Belo Horizonte, divulgados por meio do boletim epidemiológico desta segunda-feira (27).
À medida que a prefeitura abre novos leitos de terapia intensiva para Covid-19, avança também a necessidade da população pelos tratamentos. Na semana epidemiológica do dia 23 de maio, pouco mais de 2 meses atrás, a taxa de ocupação de UTIs destinadas ao tratamento da Covid-19 era de 42%, com 93 das 220 vagas ocupadas. No último domingo, enquanto o número de vagas era 88% maior, com 414 leitos disponíveis, o número de pacientes internados aumentou 310%, com 382 pessoas atendidas no sistema mnunicipal de saúde.
Nas enfermarias específicas para pacientes de coronavírus, 301 dos 1.115 leitos estão disponíveis conforme os dados mais recentes. A ocupação é de 73%. Também em 23 de maio, a ocupação era de 37%, com 241 das 647 vagas ocupadas. Enquanto o aumento no número de vagas foi de 72%, o número de pacientes aumentou 239%.
Membro do comitê de enfrentamento à Covid-19 em BH, o infectologista Unaí Tupinambás afirmou que os dados são bastante preocupantes. "Observamos que houve uma estabilização no teto, o lado bom é que não subiu mais nem atingiu 100% de ocupação, mas continua um dado preocupante", declarou, afirmando que a prefeitura tem condições de abrir mais leitos caso seja necessário.
Segundo o especialista, existe uma previsão de que os números caiam no fim da semana, mas nenhum dado ainda pode ser precisado. "Os números de enfermaria estão mais estabilizados, e é justamente a enfermaria que manda mais pacientes para as UTIs, além disso, há também um número menor de sepultamentos nos cemitérios municipais, mas não dá de forma alguma para pensar em flexibilização", destacou
O número de vagas disponíveis hoje, conforme a avaliação da presidente do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte (CMS-BH), Carla Anunciatta, pode ser considerado praticamente inexistente. Segundo a profissional de saúde, 32 vagas é o mesmo que não ter nenhuma, já que um paciente que necessite de um desses leitos vai ocupá-los por cerca de quinze dias ou mais, o que torna ainda mais preocupante a situação da pandemia na capital.
"Nós estamos correndo atrás do prejuízo e estamos perdendo", lamenta. Para ela, a flexibilização do comércio ocorrida em 25 de maio foi a maior responsável pela disparada de casos e óbitos na capital mineira. "O que contém a evolução da pandemia é o isolamento, então, a partir da flexibilização que houve em maio, começaram a explodir casos e agora estamos em situação dramática, caótica", explica.
Tanto Carla quanto Tupinambás reforçaram o isolamento como única medida capaz, neste momento, de frear o avanço da pandemia. "Vamos voltar nesta semana a fazer mobilizações para pedir medidas mais contundentes de isolamento para tentar fazer as pessoas pararem de circular por, pelo menos, quinze dias", anunciou a presidente.
Embate com o comércio
Nas últimas semanas, a prefeitura tem sido criticada por entidades representativas do comércio de Belo Horizonte devido às medidas de isolamento social e fechamento da cidade implementadas para contenção da pandemia.
O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), chegou a determinar que o secretário de Planejamento, André Reis, conversasse com os setores produtivos visando a uma reabertura. Contudo, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), as reuniões foram “improdutivas”.
O nível máximo de tensão foi atingido quando um juiz do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) acatou um pedido da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) de Minas que visava à reabertura dos estabelecimentos na cidade. Pouco tempo depois, a liminar foi derrubada pela Justiça após pedido da prefeitura.
Apesar disso, entidades de saúde, encabeçadas pelo Conselho Municipal de Saúde (CMS) da capital, têm pedido medidas mais duras de fechamento na cidade. No início do mês, o órgão chegou a sugerir à prefeitura que decretasse lockdown em Belo Horizonte devido à pandemia.
Após ver os números, a CDL-BH afirmou que considera inexistente a possibilidade de retomada do comércio neste momento, mas criticou o número de leitos abertos pela PBH na última semana, considerado baixo pela entidade. "Para este índice abaixar para 70%, teríamos que ter hoje 540 leitos, número até abaixo do prometido pelo prefeito há mais de 75 dias. Porém, na última semana, a Prefeitura abriu apenas e tão somente mais 19 leitos de UTI", informou em nota.
Uma proposta de retomada econômica elaborada pela CDL-BH em parceria com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) e outras representações de comerciantes da capital foi apresentada na última semana à prefeitura. Segundo o plano, as aberturas começariam quando a ocupação de leitos atingisse 80% e a primeira fase apontada na proposta já seria iniciada nesta segunda-feira, com a reabertura de praças e escritórios.
A Abrasel não se manifestou e preferiu aguardar a resposta da prefeitura, esperada para esta quarta-feira (29)