"O Encontro Marcado" permanece: as esculturas de Fernando Sabino, Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos continuam em frente à Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, localizada na praça da Liberdade, em Belo Horizonte. No entanto, há mais de um ano, as portas estão fechadas ao público devido à pandemia do Coronavírus. Além do fechamento por causa da doença, vasos e gradis foram colocados para o vedamento do espaço, em 2019. Eles chamam a atenção e geram polêmica para quem passa ou vive por ali.
Mesmo com as atividades suspensas, alguns funcionários ainda trabalham para manter o espaço com o jardim bem cuidado e outros serviços para conservação interna. De acordo com a Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult), responsável pelo local, o atendimento ao público foi encerrado no dia 18 de março de 2020, três dias após a publicação de um decreto do governo estadual com as medidas de enfrentamento à Covid-19.
Desde então, mesmo com algumas fases de flexibilização, o espaço seguiu fechado. Por outro lado, a Secult afirma que a oferta cultural foi ampliada através das plataformas digitais e redes sociais. Com o "novo normal" foram disponibilizadas oficinas artístico-culturais, rodas de leitura, bate-papo com autores, debates sobre leitura, livros e biblioteca, tudo por meio digital.
Empréstimos de livros
Nos dois primeiros meses do ano passado, antes do fechamento, 63.267 leitores passaram pela biblioteca. O espaço, quando aberto, chegava a registrar uma média mensal de cinco mil empréstimos de obras, sendo cerca de 200 livros por dia.
Ainda não há previsão para a reabertura, uma vez que, segundo a Secult, a volta das atividades presenciais depende da autorização dos órgãos públicos.
Questionado pela reportagem de O TEMPO, durante coletiva nesta quinta-feira (6),sobre a reabertura, o secretário de saúde de Belo Horizonte, Jackson Machado, afirmou que "não dá para abrir esses serviços com a taxa atual da doença na capital mineira". Ele também destacou que "é necessário ter responsabilidade, assim como ocorreu com as escolas".
Vedamento com vasos e gradis gera polêmica
Em 2019, a Secult instalou vasos e gradis em frente ao prédio da biblioteca,o que ainda gera polêmica. A marquise era usada como proteção da chuva e do sol por pessoas em situação de rua. No entanto, o vedamento fez com que muitos moradores deixassem a porta do local.
Morando na rua há cerca de 12 anos, Elionay Oliveira Xavier, de 26 anos, dorme em uma barraca em uma das laterais da biblioteca. Ele voltou à capital mineira no início deste ano após ficar seis meses internado em Salvador, na Bahia, por causa do Coronavírus.
"Eu sou de Pirapora (Norte de Minas), vim para BH, fiquei anos na rua e depois fui trabalhar no Carnaval de Salvador de 2020. Uma semana depois tive os primeiros sintomas do Coronavírus, fui internado e entubado. Voltei e, atualmente, lavo carros na região", contou.
Para ele, os vasos e os gradis foram colocados para evitar que as pessoas dormissem e ficassem durante o dia na porta. "Colocaram isso aqui para expulsar morador de rua de uma coisa que é pública. Se eles pensam que fechando aqui vai melhorar alguma coisa, só vai melhorar. Dormir não faz mal a ninguém. Está escrito aqui na placa Biblioteca Pública. Pública para quem?", questionou.
Um outro morador de rua, de 60 anos, que prefere não ter o nome divulgado, também acredita que o vedamento tenha sido uma forma de impedir o uso do espaço. "Eu não concordo com isso. Quando chove, não tem como encostar por causa dos vasos. Falta respeito com quem mora na rua", afirmou.
As opiniões de quem passa pela região divergem sobre as instalações. O aposentado Joselito Ferraz da Silva, de 72 anos, não viu problemas no vedamento. "Eu acho uma coisa normal. Se as autoridades competentes colocaram os vasos deve ter acontecido algum estudo e chegaram a conclusão que os vasos iriam embelezar a porta da biblioteca. O pessoal não pode dormir em praça, arruma um albergue. Alguma dessas pessoas gostam de ficar na rua fazendo bagunça", disse.
Sérgio de Souza Duarte, de 51, trabalha como vendedor ambulante na praça da Liberdade e não concordou com a instalação. "Ali é uma área pública. Esse fechamento com os vasos deixa o pessoal mais desamparado. A população de rua só cresce. Não precisava fazer isso", finalizou.
"Proteção", diz Secult
Por meio de nota, a Secult informou que os vasos e gradis foram instalados no entorno da biblioteca "com o objetivo de proteger as estruturas de vidro que compõem a fachada do espaço, bem como a integridade física dos funcionários que fazem a guarda patrimonial da Biblioteca".
Segundo a pasta, os gradis foram concedidos pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG). Já a aquisição das 113 unidades de vasos, a terra e o transporte foram possíveis através de um recurso de R$ 17 mil.
Por ser uma ação de proteção para o espaço, não há previsão de retirada.
Matéria atualizada às 14h42