"É uma maldade muito agressiva". O desabafo é de um bombeiro militar que atua no 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros, em Belo Horizonte. O profissional, que por medo de represália não será identificado, denuncia ser vítima de homofobia e alvo de assédio moral na corporação. Uma violência que o acompanha desde quando entrou na instituição, em 2014. "Sou um militar homossexual e eles só me toleram se eu for um 'chaveirinho', se não questionar nada. Se não aceito alguma situação, logo sou alvo de perseguição", relata.
Episódios marcantes, segundo o bombeiro, ocorreram nos anos de 2017 e de 2019. Conforme o militar, ambos os casos foram relatados aos superiores e dois procedimentos administrativos foram abertos. "Foram situações que não deram em nada, e é muito complexo denunciar tudo isso. A vítima precisa ter muita força para conseguir reunir elementos. A sua palavra é sempre coloca em cheque, é uma tortura psicológica tamanha", relata.
A conduta discriminatória, segundo o bombeiro, é praticada tanto por colegas de cargos semelhantes como por seus superiores. "Eu já vivi situações de um chefe não me aceitar na guarnição dele. Ele apontou outros motivos, mas eu entendi que o fato de ser homossexual era o motivo do impedimento", aponta o militar que afirma ter recebido nota máxima na avaliação que é feita dos profissionais da corporação. "A base de tudo é a homofobia. Mas como não podem deixar isso explícito, começam com essa conduta de assédio mora", acrescenta.
Como consequência dessas violências, o profissional chegou a ficar afastado da corporação por pelo menos 30 dias no passado. Isso ocorreu após avaliação médica de um psiquiatra, que atestou impactos na saúde mental do militar. "A minha ansiedade e alguns sintomas depressivos aumentaram bastante. É uma consequência desse ambiente hostil, e tudo ocorre de forma muito velada", detalha.
Em nota, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais garante que repudia qualquer tipo de ato ou ação discriminatória a pessoa humana. "Enfatizamos que a corporação é balizada por princípios que regem a administração pública, destacando-se os princípios da legalidade, da impessoalidade e da moralidade, de forma que prezamos pela garantia dos direitos humanos aos nossos bombeiros militares", afirma.