“Eu quero é botar meu bloco na rua, brincar, botar pra gemer”, já diziam os versos de Sérgio Sampaio. Mas quem se diverte nos blocos de Carnaval de rua de BH nem imagina quanto custam os desfiles. Entre custos com cachês, segurança, cordeiros e trios elétricos, surgem cifras milionárias. Hoje, um bloco que desfila com boa infraestrutura e que traz artistas renomados não sai por menos de R$ 100 mil. Os valores vão de R$ 7.000 a mais de R$ 200 mil, conforme o tamanho e as características de cada bloco. 

Para fechar a equação, muitos blocos recorrem a patrocinadores e vaquinhas virtuais. Os organizadores garantem que os gastos superam a oferta da prefeitura, de R$ 3.500 a R$ 12 mil.

Mas como a festa tem que acontecer, produtores precisam se planejar e encontrar formas de levantar capital para colocar o bloco na rua. O Quando Come Se Lambuza, na folia pelo quinto ano, estima público de 200 mil pessoas e gastos de até R$ 220 mil, segundo o produtor Christiano Ottoni. “Com o crescimento do bloco, vamos trazer dois trios elétricos e dobrar os seguranças (frente a 2019): teremos 150 pessoas trabalhando. Além disso, mais 60 vão cuidar de produção e organização”, explica. 

Homenageando Beth Carvalho neste ano , o bloco Me Beija Que Eu Sou Pagodeiro é exemplo de como o sucesso faz com que os gastos cresçam exponencialmente. Em 2014, primeiro ano, os custos foram de R$ 5.000. Hoje, arrastando mais de 40 mil pessoas, o bloco tem patrocínio e verba da prefeitura, e ainda organizou ensaios e shows para arrecadar dinheiro – valores não foram revelados. “Quanto maior fica o bloco, maiores são os gastos com um trio maior, a melhor capacidade de som, tem produção, músicos”, avalia o músico Matheus Brant.

“Muitos blocos conseguem ganhar mais tocando no interior do que em BH. São músicos profissionais, são seis horas de show. A prefeitura coloca todo mundo disputando a tapa. O que vemos são blocos saindo endividados no Carnaval, fazemos por amor”, defende Geo Cardoso, presidente da Liga Belorizontina de Blocos Carnavalescos e criador do bloco Baianas Ozadas. Segundo ele, um desfile como o do Baianas não sai por menos de R$ 100 mil. 

Se preparando para desfilar no domingo de Carnaval, no bairro Anchieta, na região Centro-Sul, o bloco Abre que Tô Passanu espera reunir 10 mil pessoas. Sem verbas, o bloco conta com doações e ajuda dos participantes. Os custos do desfile devem ficar em R$ 7 mil. “É o preço do carro de som mais barato. Um trio pode custar R$ 40 mil”, detalha Danilo Favato, um dos integrantes.

Parafraseando uma obra do cantor que dá nome ao bloco, “sem dinheiro no banco e sem parentes importantes”, o Volta Belchior ainda busca dinheiro com financiamento coletivo: a arrecadação está em 29% da meta. “Faltam os R$ 17 mil do trio”, explica o fundador, Kerison Lopes. 

Como o dinheiro deve ser gasto

Edital. Os blocos de Carnaval de Belo Horizonte foram divididos em quatro categorias. Os 33 classificados como “A” receberam R$ 12 mil. Outros 30 da categoria “B” foram beneficiados com R$ 8.500, e 25 grupos enquadrados na categoria “C” tiveram incentivo de R$ 6 mil. Os 14 blocos da categoria “D” foram contemplados com R$ 3.500.

Normas. Obrigatoriamente,o dinheiro deve ser usado para pagar músicos, produtores, técnicos e equipamentos de som, seguranças, aluguel de ambulância UTI móvel e outros itens de segurança.

Investimento. Neste ano, os R$ 14,3 milhões destinados à folia em BH foram financiados por dois grandes patrocinadores da iniciativa privada. O dinheiro é utilizado para a contratação de músicos, o auxílio de blocos e escolas de samba e em toda a estrutura de palcos espalhados pelas regionais da cidade durante o evento.