O Ministério da Ciência e Tecnologia inaugurou há dez dias a fábrica de enriquecimento de urânio das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende, no Rio de Janeiro. A medida causou a ira do Greenpeace, organização não-governamental de maior referência na defesa do meio ambiente.

Para a instituição, a atividade é considerada um risco, embora signifique uma fonte de energia limpa, pois não polui a atmosfera como as termoelétricas. O presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), Edson Kuramoto, faz um comparativo com outros tipos de usinas em operação.

Uma instalação a gás, afirma, com a mesma potência instalada de Angra 2, por exemplo, emitiria anualmente em torno de 5 milhões de toneladas de gás carbônico, um dos vilões do efeito estufa, além de lançar na atmosfera outras substâncias responsáveis pela chuva ácida.

Se a mesma usina fosse movida a carvão, os resíduos atingiriam 8 milhões de toneladas. Além do argumento ambiental, o investimento em energia nuclear tem caráter econômico. A inevitável escassez do petróleo mundial, afirma Kuramoto, obriga o governo brasileiro a buscar fontes alternativas.

Mas tudo dentro do conceito de desenvolvimento sustentável: atender as necessidades de desenvolvimento do presente, sem comprometer os recursos para as gerações futuras.

A fábrica de Resende representa um importante passo para o país atingir a auto-suficiência no processo de fabricação do combustível responsável pelo abastecimento das duas únicas usinas brasileiras em operação: Angra 1 e Angra 2.

Jazidas
Se a fartura de recursos hídricos levou o país a concentrar 92% de sua matriz energética nas hidrelétricas, a descoberta de novas jazidas de urânio no Pará e na Amazônia colocará o país no posto de 3º maior detentor de jazidas de urânio, o que poderá estimular o setor ainda mais.

"Temos urânio em abundância e tecnologia nacional. Tudo está a favor ao uso da energia nuclear", diz o presidente da Aben. Para o coordenador da campanha antinuclear do Greenpeace, Guilherme Leonardi, não há argumento que justifique novos investimentos em usinas nucleares.

A instituição trata as usinas como uma fonte suja de energia, geradora de lixo radioativo e responsável por criar riscos desnecessários de contaminação. "É uma energia perigosa. Passamos por Chernobyl e, infelizmente, o Brasil e o mundo não aprenderam a lição", diz Leonardi, lembrando o acidente ocorrido há 20 anos na extinta União Soviética.

A explosão em um reator matou 31 pessoas e levou à evacuação de outras 130 mil do entorno da usina. Estima-se que tenham ocorrido 8.000 mortes ligadas aos efeitos da radiação, além de um saldo de 60 mil pessoas inválidas. Segundo a Aben, não se pode comparar Chernobyl com as usinas do Ocidente.

De acordo com Kuramoto, os soviéticos mantinham um sistema operacional precário. Além disso, a falta de intercâmbio tecnológico com os países capitalistas teria sido determinante para a ocorrência do desastre.

A Aben informa que as usinas brasileiras adotam padrões de segurança utilizados em 240 usinas no mundo, sendo que apenas um acidente foi registrado em 1979, nos Estados Unidos, "mesmo assim sem vítimas fatais."

Investimentos
Para o Greenpeace, o fator econômico é um forte argumento para se desistir das usinas nucleares. "Investiram R$ 6 bilhões em apenas uma das usinas de Angra dos Reis e o retorno é muito pequeno. É uma energia cara", diz Leonardi. Em Angra 3 foram gastos até agora US$ 750 milhões (cerca de R$ 1,5 bilhão).

A Eletronuclear estima que será necessário mais US$ 1,8 bilhão (R$ 3,6 bilhões) para concluí-la. O ambientalista cita exemplos de países que estão retrocedendo em seus programas nucleares, como a Espanha, Suécia e Finlândia.

A Aben admite que os custos de construção são altos, mas informa que o preço da energia (o megawatt/hora) estimada para Angra 3 é de R$ 138, tarifa próxima das usinas térmicas.