Região da Pampulha

Briga entre vizinhos por uso de máscara termina em suposta agressão no Castelo

Designer diz que, desde o ano passado, quando reclamou pelo fato de a vizinha não usar proteção facial quando pegou Covid, vem sendo provocada pelo marido da mulher

Por Carolina Caetano
Publicado em 22 de janeiro de 2021 | 13:27
 
 
 
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Uma briga pelo uso da máscara de proteção, devido à pandemia do coronavírus, nas dependências de um condomínio residencial no bairro Castelo, na região da Pampulha, em Belo Horizonte, terminou em uma suposta agressão na última semana. Uma designer de 38 anos afirma que apanhou do vizinho depois de ter pedido o uso do protetor facial no imóvel. Após contrair a doença, a mulher do suposto agressor não teria tomado os cuidados necessários. 

O início do desentendimento foi em dezembro do ano passado. "Uma moradora do prédio estava com Covid, não respeitou o isolamento dos 14 dias, se recusou a usar máscara, e eu questionei no grupo do condomínio a utilização de (álcool em) gel e outras providências. No entanto, não citei nome de ninguém. O marido dela ficou nervoso, começou a mandar mensagens com palavrões e, depois daí, começaram a fazer muito barulho tentando me provocar de qualquer maneira", contou a mulher, que pediu para não ter o nome divulgado. 

Ela mora no local há dois anos e, até então, era amiga da vizinha. Segundo a designer, assim que tomou conhecimento que estava infectada, a dona de casa, de 32 anos, fez uma chamada de vídeo contando da doença. 

"Eu tinha ido ao apartamento dela dias antes, e ela me avisou, caso eu tivesse alguns sintomas. Só que reparei que essa vizinha levou a vida dela normal, fazendo tudo sem máscara. Eu cheguei a falar com ela que a vi sem máscara, mas ela disse que era mentira", detalhou. 

Suposta agressão

No dia 13 de janeiro, a mulher afirma que estava no apartamento dela assistindo desenho com a filha, de 4 anos, quando a luz acabou apenas no imóvel dela.

"O marido dela desligou o disjuntor da minha casa. Quando eu fui ligar, ele me pegou por trás, me jogou no chão, subiu em mim e me bateu. Ela estava ao lado, me xingando, e eu só consegui sair depois das agressões. Ele falou que eu não era nada, que não era para ficar perto da família dele, que eu era uma inquilina e dizia muitos palavrões', detalhou.

Após a discussão, a mulher foi para o apartamento dela, no 2º andar, e acionou a Polícia Militar, que registrou um boletim de ocorrência. O homem não foi localizado no dia.

"Desde então, estou em pânico. Não durmo, não como, tenho medo de sair, de deixar minha filha em algum lugar. Não voltei ao apartamento desde então, tive um dente quebrado e dores no corpo. Fui ao psiquiatra, estou de atestado médico. Perdi toda a minha vida e eles continuam a vida como se nada tivesse acontecido. Estamos com um processo correndo, fui à delegacia e ao IML (Instituto Médico Legal). Eu tenho condições e suporte da minha família, mas penso nas mulheres que não têm. Você chega em uma delegacia, no IML, e é tratado como lixo, não te dão suporte nenhum. A minha vontade é que a Justiça seja feita, e que dê a coragem para que outras pessoas também denunciem. Eu fico indignada de ver todos os os dias pessoas morrendo, hospitais entupidos, e a pessoa se recusar a usar máscara mesmo contaminada. E acha que está certa de agredir uma pessoa que pediu para usar a máscara," finalizou. 

Um dia após a confusão, a imobiliária pediu o apartamento em que ela vivia e deu um prazo até fevereiro para que ela desocupe o imóvel. 

Companheira de suspeito nega agressões

A reportagem de O TEMPO esteve no prédio e conversou com a ex-amiga da designer, que é mulher do suspeito das agressões. Ela negou os fatos. 

"Quando fui diagnosticada com Covid, eu entrei em contato com ela e avisei para ela tomar as precauções. Covid não é crime hoje, não. Todo mundo tem. Aí começou a perseguição, a mãe dela ligou para o meu marido falando que eu não deveria ficar no prédio. Eu fiz quarentena dentro do meu quarto, sem ter contato com meu marido e com a menina que trabalha aqui em casa. Teve um dia que ela me mandou mensagem falando que estava chateada porque me viu chegando ao prédio com o meu marido sem máscara, mas eu estava dentro do meu quarto", disse a mulher de 32 anos, também sob anonimato. 

O casal mora no 1º andar. Segundo a vizinha, a designer pedia para que a filha pequena dela pulasse e fizesse barulho como forma de provocação. 

"Na quarta-feira, ela colocou som alto à noite. O meu marido foi lá e desligou o disjuntor. O que ela fez? Desceu bêbada, desligou o nosso. O meu marido chegou na porta, ela veio para cima dele e meu marido a empurrou em direção à escada. Ele tropeçou na escada e os dois caíram. Eu cheguei para puxá-lo, e ela falando palavras de baixo calão. Ela chutou o meu carro e chamou a polícia. Meu marido foi para a casa da mãe e voltou na madrugada de quinta para ir trabalhar", afirmou. 

A dona de casa disse que chegou a pensar em entrar com um processo contra a vizinha pelo dano ao carro e por "ter sido constrangida" pela ex-amiga ter espalhado para o prédio que ela estava com Covid. 

"Mas meu marido me convenceu a não fazer isso. Que ela seja feliz longe daqui. A imobiliária pediu o apartamento por transtornos na vizinhança. Ela já arrumou confusão com outros vizinhos. Aqui no prédio não há nada que obrigue a usar máscara, o espaço é aberto e eu sempre entro direto no meu apartamento. O meu marido não agrediu, ela vai ter que provar, mas não existiu agressão", detalhou.

A reportagem perguntou se o marido dela tinha interesse de também apresentar sua versão para os fatos, mas a dona de casa disse que "estava falando pelos dois".

Mulheres mostram mesmo vídeo da confusão

As duas mulheres apresentaram o mesmo vídeo à reportagem. São imagens das câmeras de segurança do prédio. 

Na gravação é possível ver o homem indo primeiro em direção aos disjuntores. Posteriormente, a designer vai ao mesmo lugar por duas vezes. 

No momento em que ela volta à parte interna do prédio, teria acontecido a agressão. No entanto, as câmeras não mostram o que ocorreu entre os dois. 

Segundos depois, as imagens mostram a dona de casa segurando o marido e os três envolvidos, aparentemente, batendo boca. 

A Polícia Civil de Minas Gerais informou, por meio de nota, que instaurou inquérito para apurar os fatos e que foi expedida requisição de exame de corpo delito para a vítima. A Polícia Civil esclareceu ainda que "tanto a conclusão do laudo pericial quanto diligências em andamento pela equipe policial poderão definir a natureza das eventuais lesões e demais providências a serem adotadas".

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