Desastre

Brumadinho teme rompimento de segunda barragem e nova tragédia na cidade

Rompimento pode vitimar 20 pessoas, chegar à rodovia e afetar o rio Manso; Por falta de laudo atual sobre estabilidade da estrutura, juiz deu prazo de 72 horas para saída

Por Lara Alves
Publicado em 12 de agosto de 2019 | 12:49
 
 
 
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Pouco mais de seis meses se passaram desde o rompimento da barragem de Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana da capital, e a população do município já teme uma nova tragédia. Abandonada há mais de dez anos, a barragem de rejeitos da mina Ipê B1-A, pertencente à empresa Emicon Mineração e Terraplanegem e localizada na comunidade do Queias, não tem laudo atual que garanta sua estabilidade. 

Uma ordem judicial expedida ontem pelo juiz Rodrigo Heleno Chaves, da 2ª Vara da Comarca de Brumadinho, determinou a retirada, a partir de hoje, de 20 pessoas que vivem em nove casas na localidade. 

Embora não haja risco para a população urbana de Brumadinho, se entrar em colapso, a barragem pode vitimar as nove famílias que vivem nas proximidades, interditar a rodovia Fernão Dias e prejudicar consideravelmente o abastecimento hídrico na região metropolitana de Belo Horizonte: a lama pode atingir o rio Manso, responsável pelo fornecimento de água a quase metade de municípios vizinhos à capital.

Conforme a decisão do juiz, no período em que ficarem impedidas de viver em suas casas, as famílias devem receber, por parte da Emicon, “moradia, alimentação e toda a assistência necessária, inclusive de natureza médica e psicológica”.

Além da evacuação da área, num prazo máximo de 72 horas, foram cobrados da mineradora laudos técnicos atualizados que comprovem a real situação da barragem. Não há conhecimento nem mesmo sobre a quantidade de rejeitos depositada na estrutura. A empresa se prontificou a apresentar um plano de ação ainda hoje. 

A expectativa da Defesa Civil é que os relatórios sejam entregues até o fim deste mês. Só a partir deles será possível verificar a segurança, o volume e a toxicidade da lama.

“Estamos falando de uma ação preventiva, em função de uma dúvida sobre a real situação da barragem. Não há sinais de risco iminente”, frisou o major Eduardo Lopes, da Defesa Civil.

O órgão participou da reunião de urgência convocada ontem pelo prefeito Avimar de Melo Barcelos (PV), em que estiveram representantes da mineradora, do Ministério Público, da Agência Nacional de Mineração, além das polícias Civil, Militar e de Meio Ambiente e da Arteris, concessionária que administra a rodovia Fernão Dias. Segundo o major, a barragem é mais segura que a de Córrego do Feijão, onde 270 pessoas morreram no dia 25 de janeiro deste ano. 

"Depois do acidente aqui em Brumadinho, levantou-se a necessidade de olhar para outras barragens. Nós sabemos do risco que uma barragem abandonada pode representar, mas não sabemos se ela pode se romper ou não. O prefeito, preocupado com isso, convocou a reunião para cobrar das autoridades uma fiscalização imediata. A empresa deve fazer a retirada dos moradores que ali vivem e prestar assistências médica e psicológica", comunicou Décio Júnior, assessor da Prefeitura de Brumadinho. 

Segundo ele, a Emicon não atua em Brumadinho há cerca de dez anos e, desde então, a estrutura está completamente abandonada. "É complicado saber o que pode acontecer ali em caso de rompimento, precisamos de laudos mais atuais", conclui.

Lado oposto

Segundo a Prefeitura de Brumadinho, a estrutura da Mina Ipê B1-A fica numa região oposta à mina de Córrego do Feijão, portanto, não há risco para a região já atingida.

Mineradora afirma ter estudos complexos, mas desatualizados

A reportagem de O TEMPO entrou em contato com a Emicon, que informou, por nota, que cumprirá decisão judicial e removerá as pessoas potencialmente afetadas, "ainda que barragem não esteja em eminente risco."

O comunicado acrescenta que “há estudos e verificações em andamento e que são complexos. Por isso, provisoriamente, estão sendo considerados os estudos realizados para a mina/barragem do Ipê”. A mineradora informou, ainda, que “realizou os estudos de estabilidade de barragem no ano passado (apresentados em agosto), o que demonstra que vem tentando sanar e mitigar todo e qualquer eventual problema”. 

Pontuou, por fim, que a empresa é societária e que "somente mais recentemente o seu co-administrador judicialmente nomeado, Sr. Sérgio Lúcio, pôde tomar ciência de tudo que é necessário ser feito".

Posicionamento

A assessoria da Arteris também foi procurada para informar quais pontos da BR-381 seriam atingidos em caso de rompimento da barragem B1-A e se alguma medida de segurança será adotada até que seja comprovada a estabilidade da estrutura. A companhia informou que só tomou conhecimento da situação após a reunião e "está avaliando as medidas a serem adotadas para preservar o fluxo e a segurança" de quem passa pela BR-381. 

Para a Copasa, foi questionado quantos e quais municípios são abastecidos com água captada no rio Manso. 

Atualizada em 13/08/2019 às 15h48

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