CARROS ABANDONADOS

Carcaças servem de 'criadouro da dengue' enquanto casos sobem em BH; veja fotos

Especialistas pedem reforço nas ações de prevenção à enfermidade transmitida pelo Aedes aegypti, que teriam caído durante a pandemia de Covid-19

Por Anderson Rocha
Publicado em 25 de maio de 2022 | 03:00
 
 
 
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Uma média de 36 carros abandonados em vias de Belo Horizonte foram recolhidos por ano pela prefeitura desde 2016. As carcaças servem de criadouro para mosquitos da dengue, e de esconderijo para criminosos. O número é considerado baixo por especialistas, que apontam uma queda nas ações de prevenção a doenças além-Covid durante a pandemia.

A queda ocorre em momento de aumento de casos de dengue: na capital, 17 pessoas contraíram a enfermidade por dia na última semana, o que representa crescimento de 41% em relação à semana anterior, quando eram 12 ocorrências. O dado mais recente da PBH mostra que já são 546 casos confirmados da doença até o último dia 20.

“Se em uma tampa de PET podem eclodir ovos, imagine em um carro parado, onde também há a chance de acidentes por tétano e outras situações perigosas”, afirmou a cardiologista Eliana Pires, coordenadora do pronto-atendimento do Hospital Felício Rocho, em BH. De acordo com a prefeitura, 252 carcaças foram levadas para o aterro público no Pindorama, na região Noroeste da capital, nos últimos sete anos. As estatísticas ano a ano não foram repassadas pela BHTrans.

Eliana explica que a coleta dos carros é só uma das diversas medidas de prevenção que devem ser adotadas por cidadãos e governos. O que preocupa, segundo ela, é a queda desses investimentos no pós-pandemia. “Várias medidas, que já estavam muito bem organizadas, como inseticidas, visitas de agentes de saúde em casa, ficaram em segundo plano. Já está na hora de voltarmos a prestar atenção nelas ”, defendeu.

Doença grave

O infectologista José Geraldo Ribeiro Leite, que é pesquisador do desenvolvimento de vacinas contra a dengue, reforçou que a doença é grave e pode matar. Além disso, é uma condição de acompanhamento clínico desafiador.

"Muitas vezes o caso é leve no início. Com cinco dias, a febre baixa ou desaparece. O paciente e a equipe médica têm a impressão de que houve melhora, mas aí surge o pior momento, quando há risco de surgimento da Síndrome do Choque da Dengue (SCD)", alertou.

Segundo ele, o paciente começa a perder líquido em uma região interna de veias e artérias, comprometendo tecidos, e causando um choque muito grave com hemorragias. "As pessoas temem mais a hemorragia, mas o que mais mata é a SCD", finalizou.

Tem um carro na sua rua? Denuncie

"A fêmea do Aedes aegypti não voa grande distância para colher o sangue. No máximo 200 metros, mas geralmente bem menos que isso. Então, a verdade é que nós criamos a fêmea no nosso quintal, na nossa casa", explicou o pesquisador José Geraldo Ribeiro Leite.

Por isso, as medidas preventivas são tão importantes em plantas, pneus, garrafas, calhas de telhado e em carros abandonados na rua. A denúncia de situações irregulares pode ser feita à prefeitura pelo 156 ou via internet.

Experiências ruins

Rua Pedra Bonita, no Prado, região Oeste de BH. Um publicitário de 41 anos contou sobre a presença de carros em deterioração perto da empresa dele. "Um deles era uma caminhonete. Na carroceria, ficavam sacolas com acúmulo de água. Pareciam ser de um idoso acumulador, que intimidava os vizinhos e não deixava ninguém retirar o lixo", contou o homem, que não quis se identificar por medo de represálias. Os veículos ainda estão no mesmo local.

Estoril, na mesma região. O gerente de TI Douglas Lopes, de 32 anos, relatou que tem o hábito de correr em ruas com menor trânsito no bairro. Ele lembrou outro problema relacionado ao abandono dos veículos. "É nesses locais que ficam as carcaças, geralmente próximos a oficinas mecânicas. Fico receoso, você não sabe se tem alguém dentro do carro para te abordar", disse.

Veículo abandonado é aquele:

- com banco de passageiro violado, sem portas ou com vidros quebrados, havendo acúmulo de lixo ou água em seu interior;
- sem rodas, motor ou outros componentes mecânicos, impossibilitando o deslocamento com segurança por seus próprios meios;
- queimado total ou parcialmente;
- com parte estrutural da lataria com danos irreparáveis, resultado de vandalismo ou depreciação voluntária;
- com evidentes sinais de colisão ou ferrugem;
- com impossibilidade de identificação do proprietário ou do veículo;
- com visível e flagrante mau estado de conservação.

Fonte: lei 10.885/2015 (legislação municipal de BH)

Remoção de veículos

De acordo com a prefeitura, o trâmite de remoção de veículo tem início com uma denúncia via telefone 156 ou pbh.gov.br. Em seguida, o COP-BH (Centro de Operações) solicita dados do veículo, do proprietário e de possíveis impedimentos judiciais, junto à BHTrans e ao Detran-MG.

"Se as informações confirmarem que o objeto é mesmo uma carcaça e que ela não foi alvo de furto ou roubo, nem utilizado como instrumento para a prática de crimes, a fiscalização é acionada para notificação e autuação dos proprietários", explicou a PBH, em nota.

Se o proprietário não for localizado, ele é notificado por edital, com publicação no Diário Oficial, e passa a contar com 10 dias para recolher o carro. Se ele não fizer a coleta, estará sujeito a multa no valor de R$ 1.629,78.

O item é recolhido pela BHTrans e levado para o Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos BR-040, da SLU (Superintendência de Limpeza Urbana), no bairro Pindorama, na região Noroeste, onde fica guardado pelo prazo de 90 dias. Se não houver busca, é finalmente descartado.

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