Carros de app demoram mais em BH porque motoristas recusam viagens curtas

A imagem do motorista de aplicativo motivado, que disponibiliza veículos novos, água gelada e balas de hortelã aos passageiros, deu espaço a profissionais cansados com a realidade de muitas viagens e pouco lucro. A mudança colocou os dois agentes desta relação em lados opostos: usuários buscam preço baixo, mas não abrem mão de agilidade e conforto; e condutores não aceitam mais viagens curtas por conta dos valores baixos e da elevação nos custos de manutenção dos veículos.

De um ano pra cá, a situação ficou complicada para os condutores, segundo Neuri Gonçalves, 30, motorista dos aplicativos Uber e 99 há quatro anos na região metropolitana de Belo Horizonte. Ele explicou que os aplicativos começaram a ofertar inúmeras promoções aos usuários, o que tornou as viagens cada vez mais baratas e significou prejuízos para os trabalhadores. “O problema é que a gasolina está muito cara. Aluguel de carro, manutenção e pneus, o preço de tudo está muito alto. Os gastos para se manter um carro aumentaram muito de um ano pra cá, então não compensa pegar viagens que não sejam rentáveis”, disse.

Segundo ele, corridas de 5 km, por exemplo, não interessam. “Então, a solução é desabilitar as chamadas mais baratas e focar as viagens mais distantes para lucrar”, apontou Gonçalves.

Com o mesmo tempo de atuação na região metropolitana, Magali Braga, 62, motorista da Uber e da Cabify, afirma que também não aceita mais viagens curtas porque só assim consegue obter lucro. “Infelizmente, o custo de um carro é muito alto, então não compensa mais pegar corridas de preços baixos. É por isso que o passageiro que faz corrida curta e chama o aplicativo todos os dias não acha mais esse carro. Ou, se acha, demora (a encontrar) um que queira aceitar. Eu não aceito”, finalizou.
Essa insatisfação se reflete na vida dos usuários, que demoram cada vez mais para conseguir um motorista. “A solução é pedir um motorista via aplicativo uns 40, 50 minutos antes (da corrida)”, enfatizou Camila Pereira, 27, bacharel em direito. “Infelizmente, não há mais aquela rapidez e agilidade. Então, o jeito é usar, com toda a demora que está, enquanto existe, né?!”, acrescentou.

E tem usuário que já desistiu de usar os apps e, hora ou outra, vai ao seu destino a pé mesmo, como a personal trainer Francielle Queiroz, 25. “Eu usava os aplicativos de viagem todo o tempo, para ir à academia, ao supermercado. Mas, de um ano pra cá, ficou muito difícil, os motoristas demoram até 30 minutos pra responder. Às vezes, para não esperar tanto, vou a pé”, relatou. 

Viralizou

Há motoristas de aplicativo que têm canais nas redes sociais para ensinar colegas como fazer cancelamentos de viagens e priorizar deslocamentos mais rentáveis. 

Um dos vídeos que têm esse intuito, divulgado há 11 dias em um canal que é seguido por 299 mil pessoas, apresentava mais de 122 mil visualizações e 2.294 comentários até o fechamento dUber alega que pandemia elevou demanda

A assessoria da Uber informou, em nota, ter ciência da insatisfação de colaboradores e usuários. “A informação de que os usuários estão tendo de esperar mais tempo por um carro é verdadeira, e o motivo é que, especialmente nos horários de pico, há mais chamados do que parceiros dispostos a realizar viagens”, ressaltou o texto. 

A empresa associa a demora na prestação do serviço à pandemia, já que as pessoas se sentem mais protegidas fazendo o uso do aplicativo que no transporte coletivo. 

No texto, a empresa relata que está ciente de que motoristas recusam ou cancelam viagens, já que, com o aumento da procura pelo serviço, os preços das tarifas variam de acordo com o horário e localidade. “Sabem que virão outras (viagens) na sequência, possivelmente com tarifas ainda mais altas, por conta do preço dinâmico”, completa a nota. A tarifa dinâmica é o aumento dos valores cobrados quando a demanda está alta.

“A dica para os usuários é esperar alguns minutos antes de voltar a verificar o novo preço da viagem no app, porque ele muda rapidamente”, finaliza a nota. A empresa não informou números de cancelamentos e do aumento da demanda. 
esta edição.

Sem respostas
As empresas 99 e Cabify também foram procuradas pela reportagem, mas não tinham se pronunciado até o fechamento desta edição.

Nova empresa promete cobrar taxa menor dos colaboradores 

A partir do próximo dia 22, o aplicativo de transporte Up Trip vai passar a operar em BH. De acordo com o CEO da empresa, Renan Tavares, a taxa cobrada do motorista e repassada ao aplicativo é 15% menor do que a dos concorrentes. 
O aplicativo oferece a modalidade Elas, que permite a passageiras mulheres escolher viajar apenas com motoristas mulheres. “Todos os motoristas são verificados, e o passageiro vai precisar fazer reconhecimento facial no momento do cadastro”, acrescentou Tavares, sobre a segurança. 

Interessados em trabalhar na plataforma, que terá atuação nacional, estão sendo cadastrados na loja de aplicativos, disponível apenas para Android com o nome “Up Trip Motorista”. Usuários vão poder baixar a novidade apenas após o lançamento. (Com Bruno Menezes)