O que se vê do Córrego do Feijão, ponto mais afetado pelo rompimento da barragem da mineradora Vale em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, é destruição. Em meio a esse cenário, um local com uma porteira, galinhas cacarejando e passarinhos cantando chamou atenção. Nesta terça-feira (29),, a reportagem entrou em uma casa que resistiu e ficou no limite de ser invadida pela avalanche de lama. Os rejeitos pararam na varanda do imóvel. 

Grama cuidada, com enfeites de jardim, várias árvores, patos andando pelo quintal e a sensação de “casa de vó”. Seria um cenário perfeito se a vista da fazenda não fosse agora tomada por um mar de lama. O mais curioso é que, a menos de 20 dali uma casa foi totalmente destruída, deixando somente a parte da frente à mostra, e outro imóvel foi totalmente levado pela avalanche de rejeitos. As duas residências eram ocupadas por caseiros da fazenda, que conseguiram escapar por pouco.

Dono da fazenda desde 1984, o engenheiro Bráulio Sérgio Alcici, conta que dos 100 hectares de área, 20 deles foram destruídos. No local, ele diz que produzia leite, queijo, linguiça, entre outros. O maior orgulho do hoje aposentado era a plantação, que incluía bananeiras e abacateiros, por exemplo. Outras perdas foram uma nascente que minava 8 litros por segundo, uma represa e gados. 

“Meu hobby era fazer mudas. Eu fazia 600 mudas por ano, plantava 100 e dava o resto para meus amigos, para todo mundo. Mudas frutíferas, tudo que possa imaginar, só algumas sobraram”, lamenta já conformado que a mineradora Vale não vai ressarci-lo devidamente. “Quando aconteceu aquilo em Mariana eu pensei que tudo que é possível e impossível teria sido feito para preservar essas outras barragens”, completou.

Ele e a mulher, Maria Helena, tem 47 anos de casados e ficavam no imóvel entre segunda-feira e quinta-feira. Os dois estavam viajando para o Espírito Santo quando ocorreu a tragédia. Os dois caseiros e suas mulheres estavam no local no momento do rompimento da barragem. Uma das mulheres teve que ser resgatada dos escombros, e hoje está estável. Braúlio se disse aliviado com isso e os dois homens continuam trabalhando normalmente.