Boletim

Casos “suspeitos” de coronavírus em MG não vão mais ser informados diariamente

Agora, pacientes com sintomas leves que não realizarem testes de Covid-19 vão ser classificados como casos de Síndrome Gripal Inespecífica

Por Gabriel Rodrigues
Publicado em 14 de maio de 2020 | 19:40
 
 
 
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A Secretaria de Estado de Saúde (SES) anunciou mudanças no boletim epidemiológico diário que publica sobre a situação da pandemia de coronavírus em Minas Gerais. Os casos que antes eram considerados suspeitos de contaminação por Covid-19 vão passar a ser registrados como casos de Síndrome Gripal Inespecífica.

Na prática, o Estado continua a contabilizar pelo menos 101,5 mil casos de pessoas com sintomas gripais que podem ou não ter sido contaminadas pelo novo coronavírus. Mas, com a mudança de classificação dessas ocorrências, a informação já não vai mais ser informada diariamente pela SES no boletim da Covid-19. Segundo a pasta, o Estado e os municípios vão continuar avaliando os números. 

“Isso é complicado, porque pode mascarar (a situação). Me incomodou um pouco, porque acho que os dados poderiam ser colocados para a gente ter uma ideia e um parâmetro para botar o pé no freio ou não”, avalia o infectologista Unaí Tupinambás, membro do comitê de enfrentamento à pandemia em Belo Horizonte.

Casos de óbitos suspeitos e descartados também não vão mais aparecer no boletim diário da Covid-19. A SES argumenta que vai privilegiar a divulgação de dados que considera importantes para o entendimento da dinâmica da doença no Estado. 

Saber quais desses casos trata-se de Covid-19 depende da realização de testes, e infectologistas de Minas apontam que esse problema continua o mesmo, ainda que a classificação de casos suspeitos tenha sido alterada.

“É um eufemismo, uma mudança para causar menos angústia à população. Síndrome Gripal Inespecífica pode ser por coronavírus, adenovírus, Influenza...Mas continuamos querendo que a testagem seja ampliada”, avalia Tupinambás. Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (14), o secretário de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, afirmou que Minas ainda não possui a tecnologia necessário para testagem em massa da população.

O infectologista Estevão Urbano, que também é membro do comitê de enfrentamento à pandemia em BH, diz não enxergar uma mudança: “Desde o início da pandemia no Brasil, os casos que não se preenchem critérios para internação e que, portanto, não são internados, têm sido considerados como síndrome gripal. Não acho que seja ideal, porque, se pudermos testar mesmo os casos leves, vamos ter uma ciência maior da situação”.  

O infectologista Marcelo Simão, participante do comitê de enfrentamento em Uberlândia, concorda: “Síndrome gripal é uma infecção das vias aéreas superiores. A maioria não é Covid-19, mas é preciso discriminar isso com exames. Em Minas, há um atraso absurdo”, comenta. Ele explica que o diagnóstico de Síndrome Gripal Inespecífica é similar a sair de uma consulta médica com diagnóstico de virose, sem saber ao certo que vírus ataca o organismo. 

O médico relembra um estado recente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que evidencia a existência de 16,5 casos subnotificados de Covid-19 para cada caso confirmado em Minas Gerais — com isso, o Estado teria uma subnotificação quatro vezes maior que a estimada no Brasil. 

Simão toma sua cidade, Uberlândia, como exemplo. Há menos de duas semanas, a prefeitura começou a testar a população independentemente — antes, dependia de laboratórios em Belo Horizonte. Segundo o infectologista, foram adquiridos 10 mil testes e a intenção é testar todos os casos suspeitos (que somam cerca de 5,6 mil, de acordo com o boletim mais recente da prefeitura).

O aumento de casos de coronavírus na cidade, de acordo com ele, é reflexo da ampliação da testagem: o número de confirmações mais que dobrou desde o início de maio, chegando a 370. Simão afirma que Minas pode se encontrar em uma situação similar se ampliar a testagem. “Minas Gerais está em voo cego. Não acredito nesse negócio de que a pandemia está sob controle aqui”, diz. 

Minas passa a divulgar número de testes e de pacientes recuperados

Além da mudança sobre os casos suspeitos, a SES passa a divulgar diariamente o número de testes realizados no Estado e de pacientes considerados curados. Na edição desta quinta-feira (14), o boletim contabiliza que 16.571 exames realizados: 814 deram positivos, 14.989, negativo. Outros 627 estão em análise e 141 deram resultado inconclusivo, ou seja, não apontaram se o caso é ou não de Covid-19 — o que infectologistas ouvidos pela reportagem consideram normal, pela imprecisão natural dos testes, embora o médico Estevão Urbano pondere que seja cedo para avaliar a exatidão da testagem. 

Outra novidade do boletim epidemiológico é a divulgação do número de pacientes considerados curados, aqueles que receberam alta do hospital ou passaram pelo menos 14 dias em isolamento domiciliar sem mais instabilidade no quadro de saúde. Atualmente, o Estado soma 1.680 pacientes recuperados, o que equivale a cerca de 42,5% dos casos. 

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