Coronavírus

Central Única de Favelas doa dinheiro e cesta básica em 24 cidades de Minas

Foco são pessoas que perderam fonte de renda em função da pandemia do coronavírus

Por Tatiana Lagôa
Publicado em 18 de abril de 2020 | 03:00
 
 
 
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Demitida em função da crise instalada após a pandemia, com um filho de 9 anos para sustentar sozinha, aluguel para pagar  e nem um centavo no bolso, Daisy Cristine Ferreira da Paixão, 28, é o retrato de uma parcela grande da população do país. Moradora do Morro do Papagaio, uma vila de Belo Horizonte, ela só vai se alimentar neste mês graças à ajuda da Central Única das Favelas (Cufa). O grupo, que há 15 anos já faz um trabalho social nas periferias, vai distribuir R$ 150 e cestas básicas para outras pessoas que, assim como ela, estiverem prestes a passar fome em Minas Gerais. 

Para levar o projeto adiante, a Cufa acabou de fechar uma parceria com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese). A ideia é identificar quais as pessoas que mais necessitam de ajuda. A meta é distribuir recursos para, pelo menos, 15 mil moradores de 150 favelas de todo o Estado nos próximos dias. O acordo de cooperação técnica entre Cufa e Sedese foi assinado na última quarta-feira (15).

“Nós já temos contato com lideranças nas comunidades que têm feito esse levantamento de quem devemos ajudar. Os recursos nós é que estamos levantando junto com parceiros. Mas, fechamos o acordo com o Estado apenas para fazer consultas no Cadastro Único, para sabermos quem não tem nenhum outro auxílio, porque nosso foco agora é quem não tem opção de renda”, afirma o presidente da Cufa Minas, Francis Santos.

E é aí que entra a participação do Estado. “A Cufa está captando as doações. O foco são pessoas de periferias que perderam a fonte de renda em função da pandemia. Eles estão fazendo a listagem das pessoas e nós vamos indicar com base no nosso banco de dados se elas não estão recebendo algum benefício do governo”, afirma o coordenador estadual do Cadastro Único e do Programa Bolsa Família em Minas Gerais, Elder Carlos Gabrich Junior.

Para Gabrich Junior, iniciativas como a da Cufa são essenciais neste momento em que o número de pessoas em situação de vulnerabilidade aumenta. “O Estado vive uma situação econômica complicada. Não teria condições de dar esse apoio a todo mundo com essa agilidade”, afirma. Ele lembra que parte dessas pessoas que se tornaram vulneráveis em função da crise atual ainda não constam nos dados oficiais do governo e, portanto, não receberiam apoio neste momento.  

A Cufa já vinha levantando cestas básicas e distribuindo em comunidades no projeto que chamaram de “Cufa contra o vírus”, com o atendimento principalmente a comunidades de Belo Horizonte e Região Metropolitana. Agora, estão lançando a segunda etapa da iniciativa que vai ampliar a ação, com a doação de R$ 150 em dinheiro, em vilas e favelas de 24 cidades mineiras. 

Daisy foi uma das primeiras pessoas a serem beneficiadas pela ação. “Eu trabalhava sem carteira assinada em uma vidraçaria que me dispensou assim que tiveram que fechar por causa do isolamento social. Eu já não estava nem dormindo porque tenho aluguel de R$ 500 para pagar e ia ter que usar o dinheiro para comprar comida. Quando eles me deram esse dinheiro, já salvaram esse mês”, conta. Ela ainda não faz ideia de como vai pagar pela moradia no próximo mês e torce para conseguir o auxílio emergencial de R$ 600 do governo federal. “Estou bem desesperada porque fiz o cadastro e o meu fica só em análise. Não sei o que fazer”, conta. 

O projeto

A doação será direcionada preferencialmente às mães que sustentem os filhos sozinhas, pessoas que sejam arrimos de família, desempregados e trabalhadores informais que não estejam conseguindo trabalhar por causa do coronavírus. 

A distribuição do dinheiro vai acontecer de duas formas. Nas favelas da região metropolitana de Belo Horizonte os beneficiários vão receber o recurso em forma de QRCode enviado por celular. “Fizemos parceria com mais de 50 mercadinhos dentro das comunidades. A pessoa vai conseguir pagar pelo aplicativo nessa rede credenciada. Decidimos fazer assim para não termos que ir de casa em casa distribuindo cestas básicas, para evitar o contato mesmo”, conta Santos. Já no caso de quem mora nas cidades do interior do Estado, a ajuda será depositada nas contas bancárias. 

Serão beneficiadas aquelas pessoas que forem indicadas por líderes comunitários, que estão em contato direto com a Cufa, além de quem se inscrever pelo e-mail cufaminas@gmail.com. Para levar a iniciativa adiante, a Cufa necessita de doações. A instituição já arrecadou cerca de R$ 50 mil. Quem quiser ajudar, pode fazer por meio de contribuição em uma vaquinha solidária ou compra de ingresso solidário, ambos pelo site: https://www.cufaminas.org/ . A outra opção é por meio de depósito na conta: Central Única de Favelas de MG. CNPJ: 07.648.380/0001-14. Banco Sicoob - 756. Agência: 3166. Conta corrente: 71.515-8.

Periferia Viva

Outra iniciativa com focos em pessoas mais carentes é o Projeto Periferia Viva, lançado nessa sexta-feira (17). A ação reúne informações sobre os principais projetos em curso em uma única plataforma. O objetivo é dar visibilidade para as ações, facilitando a captação de recursos e até o acesso a elas. “Nós montamos um mapa com as iniciativas e damos as principais informações, como forma de doar, de entrar em contato, dentre outras”, explica a coordenadora do projeto Emanuela São Pedro. Até o momento, 35 iniciativas foram cadastradas. O mapa pode ser acessado pelo site: http://periferiaviva.org.br/ . 

 

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