A seis dias do término do mês, Belo Horizonte está próxima de ter o fevereiro mais chuvoso de sua história desde o começo das medições no Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), iniciadas em 1910. Até a manhã de segunda-feira (22), a estação meteorológica do órgão, no bairro Santo Agostinho, na região Centro-Sul, detectou que a capital mineira foi atingida por um volume de chuva próximo de 383,2 milímetros – o que equivale a cerca de 80% do maior índice registrado em um mês de fevereiro, que foi de 478,3 milímetros em 1978, há 43 anos.
A perspectiva é que o volume não pare de crescer nos próximos cinco dias, para os quais há previsão de chuva, não apenas em Belo Horizonte, como também em outras regiões de Minas Gerais, entre elas a Central, onde encontra-se o município de Santa Maria de Itabira, um dos mais castigados pelas chuvas dos últimos dias – até a tarde de segunda-feira, o Corpo de Bombeiros havia encontrado corpos de seis pessoas, entre elas uma criança de 5 anos.
A tendência de fortes temporais entre o término das tardes e o período da noite mantém-se pelo menos até sexta-feira (26), e em função do quadro emergencial no qual encontra-se o Estado, o Instituto Nacional de Meteorologia emitiu um alerta válido até terça-feira (23) para possibilidade de tempestades com até cem milímetros por dia – o comunicado aplica-se a 735 municípios mineiros nas regiões metropolitana de Belo Horizonte, Zona da Mata, Campo das Vertentes, Norte, Oeste, Sul, Noroeste, Vale do Mucuri, Triângulo, Alto Paranaíba, Central, Rio Doce e Jequitinhonha. A meteorologista Anete Fernandes, integrante do corpo do Inmet, esclareceu que, mesmo com o informe, espera-se uma diminuição no volume de chuva.
“Em Belo Horizonte, por exemplo, persistem as áreas de instabilidade que provocam chuvas, principalmente nos períodos da tarde e da noite. Entretanto, há uma tendência de redução do volume de chuva, e essas pancadas serão as típicas do período, com temperaturas esboçando ligeira elevação, podendo os termômetros marcarem 31ºC na quinta-feira (25)”.
Ela detalha também que a previsão aplica-se às outras regiões de Minas Gerais, com exceção do Triângulo, Oeste, Sul e Campo das Vertentes. “Nos municípios dessas localidades o céu permanece entre parcialmente nublado e nublado, com pancadas e trovoadas isoladas, mas trata-se de uma quantidade menor de nuvens que nas outras regiões, e menor instabilidade”.
Quedas nos volumes de chuva esperados para Belo Horizonte em comparação com o período transcorrido da última quinta-feira (18) até esta segunda-feira (22) são fruto de uma mudança atmosférica com o enfraquecimento da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) que atua sobre a região. Entretanto, na próxima sexta-feira (26), o cenário retoma características de intensa instabilidade com a aproximação de uma frente fria.
“Na sexta-feira, com a aproximação de uma frente fria pelo litoral da região Sudeste, a tendência é que se intensifiquem as instabilidades. O que sabemos é que até lá há um enfraquecimento da influência da zona de convergência, o que diminui o volume de chuva em relação ao que tivemos nos últimos cinco dias”.
Em decorrência dos temporais recentes, Belo Horizonte foi colocada sob risco de alerta geológico pela Defesa Civil. O comunicado permanece com validade até quarta-feira (24).
Em BH, choveu mais que o dobro da média do mês
Entre o primeiro dia de fevereiro até a manhã de segunda-feira (22), a estação de referência do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), no bairro Santo Agostinho, detectou ter a cidade registrado 383,2 milímetros de chuva no período, valor que corresponde a 111% da média climatológica histórica do segundo mês do ano – que gira em torno de 181 milímetros.
Estatísticas da Defesa Civil de Belo Horizonte, seccionadas pelas regionais da capital, indicam que em algumas regiões da cidade, como na Noroeste, o acumulado de chuvas até a manhã de segunda-feira alcançou o maior já registrado na cidade, em fevereiro de 1978 – quando estação do Inmet marcou 478,3 milímetros de chuva em BH.
De acordo com relatório feito pelo órgão de segurança, já choveu 480 milímetros na região Noroeste – o segundo e terceiro lugares na lista de regionais mais atingidas pelos temporais coube ao Barreiro, com 468,8 milímetros, e à Centro-Sul, com 466,4 milímetros. Também choveu mais de 400 milímetros nas regionais Norte e Leste. Em Venda Nova, na Pampulha e na região Oeste, acumulado está entre 346,8 e 396,2 milímetros.
Veja a seguir o acumulado de chuvas por regional feito pela Defesa Civil de Belo Horizonte até 6h de segunda-feira (22):
Barreiro: 468,8 (258,4%)
Centro Sul: 466,4 (257,1%)
Leste: 408,8 (255,4%)
Nordeste: 436,2 (240,5%)
Noroeste: 480,0 (264,0%)
Norte: 424,4 (234,0%)
Oeste: 346,8 (191,2%)
Pampulha: 396,2 (218,4%)
Venda Nova: 365,8 (201,7%)
Estragos
A noite de domingo (21) e a madrugada de segunda-feira (22) foram de fortes temporais nas nove regionais de Belo Horizonte com acumulados maiores que 35 milímetros em um curto período de 12 horas, segundo informações da Defesa Civil do município. Quedas de árvores e interdições por alagamentos foram apenas alguns dos transtornos sentidos por motoristas que trafegaram pelas ruas da capital mineira nas primeiras horas do dia.
Trechos de lentidão foram registrados à rua da Bahia, entre rua dos Tamoios e avenida Afonso Pena, em função da queda de uma árvore de grande porte sobre a calçada lateral do Parque Municipal Américo Renné Giannetti, invadindo também duas das três faixas do asfalto. Outra queda de árvore de grande porte foi também registrada na avenida Santos Dumont, no centro de Belo Horizonte. O gradil da estação do Move próximo à rua Espírito Santo foi atingido.
O cenário caótico não pára por aí, e foi igualmente necessária a interdição da rua São Gregório, no bairro São Gabriel, na região Nordeste de Belo Horizonte. Foi fechado o trecho na altura do acesso do Anel Rodoviário para a Via 240 em função de um alagamento. Linhas de ônibus cujo itinerário passa pelo local foram desviadas temporariamente para a marginal do Anel Rodoviário até a rua Jacuí.
No bairro São Marcos, à mesma região, um imóvel foi interditado pela Defesa Civil à rua Francisco Leocádio, depois que um muro de arrimo desabou na madrugada de segunda-feira. Segundo o órgão, o proprietário da residência foi notificado e orientado a adotar providências para limpeza e mitigação dos riscos. Uma construção vizinha foi isolada preventivamente.