Depois dos surtos de conjuntivite ocorridos em Belo Horizonte entre março e junho deste ano, setembro chega com um alerta da Secretaria Municipal de Saúde: este é o mês com o clima mais propício para epidemias da doença. De janeiro até agosto, 23,2 mil pessoas foram parar em hospitais públicos da capital com a inflamação nos olhos. O número é quase cinco vezes maior que os 5.150 do mesmo período de 2017. Essa situação pode ficar ainda pior neste mês, que, historicamente, tem mais infectados.
“A primavera é vinculada à conjuntivite por causa do período seco e das partículas de pólen no ar, que causam irritação nos olhos. Nesse contexto, as pessoas tendem a levar mais as mãos aos olhos, e, consequentemente, a doença se espalha com maior velocidade”, explica a diretora de Promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde da capital, Lúcia Paixão.
Segundo ela, a epidemia ocorrida nos meses anteriores foi atípica e ainda sem uma causa definida. A secretaria acompanha apenas os casos de surtos que ocorrem quando são detectadas várias vítimas em um mesmo local, como uma escola, um bairro ou uma empresa. Só nos cinco primeiros dias de setembro, um surto já foi notificado e está sendo apurado pela secretaria.
Atendimento. De acordo com o chefe do pronto-socorro da Clínica de Olhos da Santa Casa BH, Luís Felipe Carneiro, em média, 60% das 160 pessoas atendidas no local diariamente são diagnosticadas com conjuntivite. O oftalmologista explica que alguns casos são leves e nem sequer demandam atendimento médico. Normalmente são viróticos. Mas em outros, principalmente quando são bacterianos, é necessário usar colírios antibióticos receitados por especialistas.
A jornalista Fernanda Fonseca Pessoa, 35, pegou uma versão mais devastadora da doença. Há um mês ela tenta se recuperar da conjuntivite bacteriana que leva as pálpebras dela até a sangrar. “Sinto muita dor e fico com as vistas embaçadas. Estou isolada. Evito contato até com minha filha de 4 anos”, conta.
Popularmente conhecida como uma doença de trato simples, a conjuntivite pode levar à cegueira caso não seja tratada.
Higiene
Cuidados. Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais pede um cuidado maior durante este mês com ações simples, como higienização constante das mãos com álcool.
Sexo pode ser forma de contágio
Uma das versões mais críticas da conjuntivite é chamada “gonocócica”, transmitida entre adultos durante a relação sexual e para bebês no momento do parto. Segundo o chefe do pronto-socorro da Clínica de Olhos da Santa Casa BH, Luís Felipe Carneiro, ela é causada pela mesma bactéria que leva à gonorreia, que também é uma Doença Sexualmente Transmissível (DST).
Se durante o sexo os olhos forem atingidos pelo sêmen infectado, a pessoa pode adquirir essa inflamação. “Não é tão raro isso acontecer. Todos os dias chega ao menos um caso desse na Santa Casa”, conta. Já quando se trata de bebê, a transmissão acontece quando ele passa pelo canal vaginal.
Outros tipos de conjuntivites virais ou bacterianas também são contagiosos e podem ser transmitidos pelo contato direto com as mãos, com a secreção ou com objetos contaminados.