Em Nova Lima

Clínica é suspeita de congelar animais mortos e continuar cobrando diárias

Polícia Civil faz operação no local na manhã desta sexta-feira; estabelecimento é suspeito de série de irregularidades

Por Mariana Nogueira
Publicado em 22 de novembro de 2019 | 07:46
 
 
 
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A Polícia Civil prendeu preventivamente, na manhã desta sexta-feira (22), o médico veterinário proprietário da clínica Animed, em Nova Lima, na região metropolitana da capital. Ele é suspeito de cometer atrocidades contra animais domésticos e estelionato contra os proprietários deles. Entre os crimes estão manter animais mortos congelados, realizar cirurgias invasivas e desnecessárias, e medicar cães e gatos com substâncias para humanos, com prazo de validade vencido. A mulher do proprietário, que também é veterinária, é considerada foragida pela Polícia Civil. Há um mandado de prisão temporária contra ela, que ainda não foi encontrada pela corporação. A Justiça já determinou o fechamento imediato da clínica e a cassação do CRMV do proprietário. 

O hospital veterinário Animed está localizado na rodovia MG 30, que dá acesso a cidade. A Polícia Civil investiga ainda práticas de lavagem de dinheiro e formação de quadrilha envolvendo os donos da unidade. Segundo a delegada Carolina Bechelane, as investigações começaram apontando um crime ambiental, até culminarem em denúncias de clientes que perderam cães e gatos por imprudência dos envolvidos.

“Começou como crime ambiental, com armazenamento e descarte de lixo veterinário juntamente com lixo comum. Com o tempo, fomos apurando outras práticas de crime aqui dentro, como estelionato e maus tratos com resultado morte. Percebemos que tem mais de quatro pessoas engajadas para que a prática do crime aconteça”, explicou.

De acordo com a polícia, os proprietários da clínica agiam de forma a cobrar dos clientes por serviços não prestados. Os animais eram congelados para ficarem mais tempo na clínica e, com isso, gerarem mais despesas. Na prática, quando por alguma razão os animais vinham a óbito, o proprietário da clínica realizava o congelamento e informava aos donos que o animal ainda estava internado, para continuar cobrando as diárias de internação.

“A gente percebe que, aproveitando a dor dos tutores, eles ludibriavam para que aceitassem consultas e cirurgias com preço muito alto. Às vezes eles eram pressionados a assinar notas promissórias em branco, sob a condição de iniciar o tratamento por medida compulsória. A intenção era ludibriar os tutores visando o lucro, como com a permanência de um animal às vezes mais tempo que o necessário, com medicamentos que não eram necessários, diagnósticos que não eram reais. Fora os casos de animais que foram mortos em determinado momento, a morte só foi informada tempos depois e, nesse período, foi dito que foram feitos vários procedimentos. Temos provas testemunhais de que o congelamento já aconteceu, com a intenção de postergar a entrega do animal”, afirmou a delegada. 

O delegado Bruno Tasca informou ainda que animais eram submetidos a transfusões de sangue não autorizadas. “Às vezes, o animal vinha para tomar um banho, para uma tosa, e tiravam o sangue para fins de transfusão em outro animal”, disse.

Ainda segundo Tasca, funcionários também são investigados. “Estão sendo investigados pelo crime de associação criminosa, por associarem mais de três pessoas pela prática de crimes. Então também estão sendo investigados alguns gerentes, alguns funcionários da clínica. O que a gente percebe é um certo temor em dar informação, em omitir a verdade. A medida em que ele ameaçava essas pessoas, ameaçava veterinários, dizendo que iria interceder no ambiente veterinário para prejudicar o profissional”, afirmou.

A Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão na clínica e na casa do suspeito, que vai ser autuado por crimes ambientais, de estelionato e maus tratos. Uma outra parte da investigação deve apurar a prática de crime financeiro, segundo a Polícia Civil.

O deputado estadual Fred Costa recebeu denúncias em seu gabinete e participou da operação. “São várias denúncias. Nós acreditamos que, agora, deva aparecer outras pessoas denunciando. Segundo a Polícia Civil as denúncias partem de alguns anos, ou seja, é uma prática recorrente. Nós esperamos que os responsáveis tenham pena exemplar, afim de que isso não mais aconteça. É inadmissível clínica veterinária realizar crime de maus tratos, quando os tutores esperam que eles estejam sendo bem tratados e cuidados”, afirmou o deputado. 

A proprietária de uma cadela que estava internada há três dias no local, viu a repercussão do caso na imprensa e foi até a clínica retirar o animal. Em choque, ela disse que as recomendações sobre o hospital sempre foram positivas. “Eu vim correndo porque fiquei indignada. Fiquei surpresa. A gente entra e é uma clínica que tem tudo, com uma estrutura boa. Vou levar ela em outra clínica para ver se está tudo direitinho. Eu até chorei. Fiquei arrasada. Como que o ser humano pode fazer uma coisa dessas com os animaizinhos?”, questionou a mulher, que pediu para não ser identificada.

O médico veterinário não quis falar com a reportagem. A defesa dele também não se pronunciou. De acordo com a polícia, o suspeito alega que ficou surpreso e que não sabe o motivo das diligências.

Empresa diz que vai colaborar com investigações

Em nota, a Animed informou que está surpresa com a operação e que se pronunciará, publicamente, após análise  de todas as denúncias sofridas. Além disso, a empresa se colocou à disposição da Justiça para esclarecimento dos fatos e afirmou que irá cooperar no que for preciso  com a investigação da Polícia Civil.

Atualizada às 13h47.

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