Os próximos concursos para funcionários da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) deverão ter 20% das vagas reservadas a negros. A imposição é da Lei 10.924/2016, sancionada ontem pelo prefeito Marcio Lacerda (PSB) durante um encontro com lideranças quilombolas no Museu Histórico Abílio Barreto. Não há, porém, nenhum concurso municipal agendado.
“Os negros compõem a maior parcela da população brasileira, mas ainda são minoria nos quadros de pessoal do setor público. Com essa lei, damos mais um passo para sanar essa injustiça histórica e para tornar mais efetivo o princípio constitucional da isonomia entre os cidadãos. Esse é mais um importante avanço em nossa política de promoção da igualdade racial”, afirmou Lacerda.
Segundo dados mais recentes da Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de Belo Horizonte (PED/RMBH), divulgada em 2013, apenas 11,9% dos servidores públicos se declaram negros. A prefeitura da capital não possui estatísticas próprias, mas afirmou que, com a sanção da legislação, é esperado que a porcentagem chegue até mesmo a passar os 20% da reserva.
“Não temos esses números do pessoal, mas a maioria dos negros está em serviços com menor remuneração. Pouquíssimos estão em cargos de gerência, por exemplo. Acreditamos que, com a lei, essa distorção irá diminuir, e, junto com ela, a discriminação também cairá”, explicou Rosângela Silva, coordenadora de Promoção da Igualdade Racial (CPIR) da prefeitura.
A nova regra era uma demanda antiga de líderes quilombolas e agradou às comunidades presentes na solenidade. “Ela vem tardia, mas muito bem-vinda. Esperamos ter mais oportunidades a partir de agora”, disse o presidente da Associação do Quilombo de Mangueiras, Maurício Moreira.
Regras. Para se candidatar a uma vaga reservada para negros, a pessoa precisa apenas se autodeclarar como afrodescendente. Porém, para evitar desvios, o candidato que não apresentar tais características poderá ter sua posse impugnada pelo Executivo. “Ficaremos atentos a isso para que não aconteça nenhum erro do tipo. Não podemos deixar que ninguém saia prejudicado’, acrescentou Rosângela.
A reserva de cotas para negros não é novidade em concursos públicos. Em 2014, a Lei 12.990 estipulou a reserva de 20% das vagas em concursos da administração pública federal. O objetivo, segundo a União à época, era a de tornar o ambiente da administração pública federal mais igualitário.
Conselho ganha novos membros
Durante a solenidade de sanção da lei de cotas para negros, o prefeito Marcio Lacerda deu posse também aos novos membros do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (Compir). O grupo é composto por 40 membros do poder público e da sociedade civil.
Segundo a prefeitura, o objetivo é contribuir para o desenvolvimento de políticas de promoção da igualdade racial, com ênfase na população negra e em outros segmentos étnicos, especialmente para combater o racismo, o preconceito, a discriminação, a xenofobia e as desigualdades sociais.
“O conselho é importante para essa representatividade nas ações do poder público. É algo que vem sendo benéfico desde que foi criado, em 2011”, disse a coordenadora de Promoção da Igualdade Racial, Rosângela Silva. (JC)