Ao exigir que novos protocolos de segurança fossem adotados, a pandemia do novo coronavírus tolheu o que a cerimonialista Elena* considera seu “instrumento de trabalho” nos velórios em que atua: a proximidade com aqueles que perderam entes queridos.

“No início, eu tive que me policiar, porque é quase inevitável trocar apertos de mãos e oferecer abraços para famílias em um momento tão delicado”, argumenta. “Na medida do possível, a gente tenta passar segurança, dar carinho e atenção e tentar amenizar um pouco esse momento”, garante ela.

Um segundo desafio se apresentou, para além da manutenção de uma distância segura nos eventos: cabe à cerimonialista orientar parentes e amigos enlutados sobre as novas diretrizes adotadas em cemitérios de Belo Horizonte. Os velórios, agora, não podem mais acontecer, e as últimas homenagens, mais limitadas, devem ocorrer apenas às margens dos jazigos.

“Como a pandemia é uma preocupação em todo o planeta, muita gente já vem sabendo quais são os procedimentos que poderão ser executados. Porém, a família está em seu pior momento. Por mais que seja a realidade de agora, existem aqueles que insistem, que querem abrir a urna, que querem ter uma última despedida. É quando precisamos ter um trato especial”, reconhece Fablo Oliveira, gerente de unidade do Grupo Zelo. 

Ele reforça que, em situações assim, é preciso, “com muito cuidado”, mostrar que não é só a família que está se expondo, mas também os funcionários.

Regras especiais

Oliveira cita uma série de medidas de segurança adotadas para os profissionais em função do novo coronavírus.

“Quando recebemos corpos de vítimas de doenças respiratórias, pneumonia ou que gere qualquer desconfiança de que tenha havido infecção pelo novo coronavírus, mesmo que isso não seja explicitado, os trabalhadores usam todos os equipamentos de proteção”, comenta. 

Em casos suspeitos, o corpo é envolto em um saco especial antes de deixar o hospital e passa por assepsia. Se o diagnóstico for positivo, a vítima da doença é posta em um segundo saco pelos profissionais da funerária. A urna, então, “é lacrada, e as chavetas são quebradas, evitando tentativa de violação”, explica.

Mesmo com tantos cuidados, Elena teme ser alvo de preconceito e que, no atual contexto, passe a ser tratada como potencial transmissora da Covid-19 por trabalhar próxima da doença na lida diária. Por isso, assim como Artur, o coveiro apresentado na página 2, ela pediu à reportagem para que sua identidade fosse preservada.