Mães e pais que procuraram atendimento médico para suas crianças no Hospital Infantil João Paulo II, na região hospitalar de Belo Horizonte, precisaram encarar uma fila gigantesca com tempo de espera de até 12 horas até a entrada no consultório, nessa segunda-feira (16). 

A unidade de saúde, referência no tratamento de doenças raras, estaria funcionando apenas com quatro dos oito ambulatórios disponíveis, o que teria causado a demora no atendimento e princípios de confusão entre os pais à espera por consultas. A denúncia foi feita por Carlos Augusto Martins, presidente da Associação Sindical dos Trabalhadores em Hospitais de Minas Gerais (Asthemg). Segundo ele, mais de 50 mães e pais aguardavam na fila. 

"Nós fomos chamados até lá e encontramos uma situação de muito tumulto. Mais de 50 mães aguardando atendimento médico em um espaço totalmente insalubre. Já não cabia ninguém dentro da sala de espera, e muitas estavam com suas crianças sob uma cobertura, no pátio externo do hospital. Cadeiras próximas, muito cheias e mais de 12 horas de espera para atendimento", alega. 

Apesar do grande número de pessoas esperando, segundo ele, o interior do hospital não estava lotado. "Havia muitas vagas em berços e macas nos ambulatórios. Mas, dos oito ambulatórios que o hospital tem, apenas quatro estavam funcionando", detalha. Um dos grandes problemas apontados pelas mães e pais era a proximidade de crianças com sintomas muito diferentes compartilhando o mesmo espaço, umas expostas às outras.

"Nós encontramos cerca de 15 crianças nessa situação, com sintomas de doenças infectocontagiosas diferentes, como sarampo, rubéola e coronavírus. A gravidade disso é que, se você tem essas crianças com suspeitas diferentes, juntas, no mesmo espaço, você expõe um paciente ao outro", explica. 

Os pacientes com esse sintomas eram separados dos outros por uma técnica de enfermagem, instalada em uma mesa no pátio do hospital e encarregada de uma "pré-triagem" das crianças. "A direção do hospital, de forma improvisada para tentar conter o tumulto, colocou uma técnica de enfermagem sozinha, do lado de fora. Ela recebia os casos, verificava a ficha do paciente e os dados e media a temperatura. Quando ela achava que a doença era infectocontagiosa, ela direcionava os pacientes para um corredor na lateral do prédio. Nenhum deles ficava à vista dos médicos", denuncia Martins. 

Segundo ele, no período em que a associação esteve no Hospital Infantil João Paulo II, houve confusão com pais e inúmeras reclamações. "Algumas mães não tinham sequer sido chamadas, outras chegaram a ameaçar agredir a técnica de enfermagem", detalha.

Além dos problemas denunciados pela Asthemg em nota nesta terça-feira (17), os trabalhadores também questionam a inexistência de frascos ou dispensers com álcool em gel na unidade de saúde. "Não havia produtos para assepsia, como o recomendado para lugares onde há aglomeração, não tinha álcool em gel. Além disso, nós consideramos que os oito consultórios precisariam estar funcionando. Se não tinha como, o local de espera tinha que ter sido melhor adequado, as cadeiras eram muito próximas, o que facilita o contágio", pontua. 

Resposta

Questionada, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), responsável pelo Hospital Infantil João Paulo II, declarou que está contratando médicos temporariamente para início imediato, para que seja suprimida a quantidade necessária de profissionais para os próximos meses. 

"O aumento da procura por atendimento é previsto nesta época do ano, quando começam, tradicionalmente, os casos relacionados às doenças respiratórias. Na data de ontem, o movimento foi atípico, acima do atendimento esperado, talvez em função do temor quanto à epidemia do coronavírus", declarou a instituição por meio de nota.

Além disso, a Fhemig pontuou que o fato de alguns servidores estarem em greve causa lentidão no atendimento. "Consequentemente, isso acarreta um tempo maior de espera para os pacientes", concluiu.