Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) concluiu que, dentro do grupo dos idosos, os mais vulneráveis socialmente devem ter prioridade na imunização contra a Covid-19. Isso porque a parcela mais carente e mais velha da população concentra mais que o dobro de mortes pela doença em relação às classes mais ricas.  

Para definir o nível de risco social de cada região de Belo Horizonte, a pesquisa usou o Índice de Vulnerabilidade em Saúde (IVS), que considera saneamento, coleta de lixo, abastecimento de água, alfabetização e cor da pele. As áreas são classificadas de acordo com baixo, médio e elevado risco social. 

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) disse que segue o Plano Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde. "Já foram contempladas as faixas etárias de idosos acima de 75 anos para todos os territórios da cidade, incluindo aqueles residentes nas áreas mais vulneráveis", diz o município, em nota. 

A epidemiologista e professora de enfermagem da UFMG Deborah Malta, uma das responsáveis pela pesquisa, explica como a Covid-19 atinge de forma mais grave a população mais pobre da capital.  

“O estudo mostrou profundas diferenças em relação ao local de moradia. Em regiões mais ricas, a taxa de mortalidade por Covid-19 entre idosos foi de 179 por 100 mil habitantes. Entre os que moravam em regiões de média vulnerabilidade, a mortalidade cresceu para 353 por 100 mil habitantes, subindo para 472 óbitos por 100 mil habitantes em regiões de elevada vulnerabilidade”, diz a professora. 

Diante dessa realidade, em que as vítimas da pandemia se concentram nas parcelas mais vulneráveis da sociedade, a vacinação deve priorizar essa população, de acordo com a responsável pela pesquisa. “Idosos que residem em vilas e favelas têm taxas de mortalidade até quatro vezes mais elevadas, assim a aplicação de vacinas neste grupo terá uma repercussão imediata na redução das taxas de mortalidade e na ocupação de leitos de UTI, com repercussão positiva para o conjunto da população”, explica Deborah.  

Com o estudo concluído, os pesquisadores esperam contribuir para ajudar o poder público e profissionais da área da saúde no combate à Covid-19. “A proposta de priorização de vacinação dos idosos que residem em áreas de maior vulnerabilidade foi apresentada no 22º Congresso de Geriatria e foi muito bem recebida pelos participantes. Também apresentamos para a equipe técnica da Secretaria Municipal de Saúde, que ficou de analisar a proposta”, diz a epidemiologista. 

O estudo “Maior mortalidade durante a pandemia de covid-19 em áreas socialmente vulneráveis em Belo Horizonte: implicações para priorização da vacinação” é fruto de uma parceria interdisciplinar. Foi conduzido pela UFMG, com participação de pesquisadores e gestores da Secretaria de Saúde de Belo Horizonte (SMS-BH) e da organização global de saúde pública Vital Strategies.