Filha mais velha entre três irmãs com idades próximas, Ana Karlla guardou para si o sonho de receber uma barra de chocolate e um par de sapatos como presente pelo aniversário de 11 anos comemorado em 31 de julho. Há pouco menos de um mês, frente às dificuldades encontrada pelos pais para alimentar a ela e a suas irmãs, ela sequer imaginaria que o sonho seria realizada e traria consigo presentes ainda maiores. A menina moradora de Alpinópolis, um município no Sul de Minas Gerais, descobriu que não havia comida na geladeira e na despensa e decidiu telefonar escondido para a Polícia Militar pelo celular da mãe e implorar uma cesta básica.
A história aconteceu no começo do mês e após a ação dos militares que entregam os alimentos, a cidade comoveu-se com a história das três crianças e diferentes pessoas decidiram ajudá-las. Além do bolo de aniversário que ganhou nessa sexta-feira (31), Ana Karlla também recebeu incontáveis chocolates para dividir com as irmãs e o aperto da fome tão presente há pouquíssimos dias parece pertencer a um passado distante.
A corrente de solidariedade espalhada pelo município diminuto atingiu proporções não imaginadas e depois de receber sapatos, roupas e alimentos doados pela polícia militar e por moradores de cidades próximas, a menina e suas irmãs Gabrielly e Eloah, de 7 e 9 anos, realizaram o sonho de ganhar uniformes esportivos doados pelo clube do coração – o Palmeiras. Uma torcida organizada do time também doou alimentos para a família e o mascote do paulista viajou até Alpinópolis para conhecer as três irmãs.
Ainda às vésperas do aniversário, Ana Karlla e as irmãs participaram de um ensaio fotográfico para que a mãe guardasse lembranças da infância das meninas. Comerciantes da cidade doaram roupas, o próprio ensaio e até um dia no salão de beleza que só terminou depois de um encontro numa lanchonete. O sufoco provocado pelo acúmulo de contas e um único salário mínimo para quitá-las também teve fim para o pai das garotas que com a ajuda de um doador anônimo conseguirá pagar o aluguel da casa em que a família vive até o fim do ano.
Alívio
O cabo Juliano Pereira do pelotão de Alpinópolis foi quem atendeu o telefone na última quarta-feira do mês de junho e descobriu do outro lado da linha o desespero da criança que pedia socorro diante da fome. Transcorridos mais de trinta dias, ele relembra a sensação de alívio sentida quando começou a receber as primeiras ofertas de apoio à família. “Fico extremamente feliz em poder ajudar essa família creio que nós estamos no caminho correto em estreitar cada vez mais os laços com a comunidade. Segurança Pública não se faz somente com prisões mas também com ações sociais, que nos fazem crescer pessoal e profissionalmente”, descreveu nessa sexta-feira (31).
Relembre
A situação da família de Ana Karlla tornou-se mais complicada no mês de março em paralelo com o início da pandemia, quando uma de suas irmãs teve que ser submetida a uma cirurgia de emergência em função de um problema de saúde que provoca queda na imunidade. O pai das meninas é contratado em uma empresa, mas recebe apenas um salário mínimo e a mãe é dona de casa. As dívidas aumentaram com os custos do procedimento cirúrgico.