A demora no atendimento, mais uma vez, é alvo de reclamações dos usuários da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Barreiro, em Belo Horizonte. A reportagem de O TEMPO esteve no local, nesta quinta-feira (28), e encontrou pessoas que chegaram nas primeiras horas do dia e ainda aguardavam ser chamadas para as consultas médicas.
A operadora de caixa Raquel Marins de Andrade, 40, conta ter feito um “auê” para garantir o atendimento da mãe de 75 anos que sofreu uma crise convulsiva. “Quando chegamos era 11h e já estava dando 14h e nada dela passar no médico. Minha mãe vomitou sangue e perguntei o motivo de tanta demora: fui informada que os médicos estavam prestando assistência a duas pessoas que acabaram morrendo”.
A justificativa para a demora não convenceu Raquel. “Comecei a fazer um show e falei que minha seria atendida naquela hora. Saiu médico de todo lado e somente depois disso ela teve a consulta e medicada”.
Era 6h quando a diarista Francis Mara Costa, 54, deu entrada na UPA Barreiro com a filha, de 20. A jovem está com a garganta inflamada e sequer consegue alimentar por conta das dores. Passados mais de dez horas, ela ainda aguardava ser chamada.
“O paciente chega doente e sai muito pior. Não tem palavras para descrever este lugar. Não sei quem é o culpado, só que pagamos imposto, somos trabalhadores e merecemos um pouco mais de respeito”, desabafa a diarista que perdeu o dia de serviço.
Apagão
O garçom Alexandre Antônio, 32, compareceu à UPA por duas vezes, em um curto intervalo, na tentativa de ter o diagnóstico para as dores que sentia. “Cheguei ontem às 19h, deu 1h e a luz acabou. Depois disso não atenderam mais ninguém. Voltei pra casa e às 7h retornei pra cá e sigo esperando”.
Diante de tanta demora, ele afirmou: “é um descaso total com a população”.
‘Vazio’
Familiares de uma idosa viviam momentos de angústia com a espera pela transferência para um leito de Centro de Terapia Intensiva (CTI). O filho dela conversou em anonimato com a reportagem. Ele contou que a mãe teve um aneurisma e o estado de saúde era complicado.
“Já são mais de cinco horas aguardando a transferência. Sinto um vazio, estou de mãos atadas. É uma dor que não tem como mensurar. Não desejo isso para nenhum filho: ver a mãe precisar de [leito] CTI e não ter onde colocar”.
Demora confirmada
Um funcionário da UPA Barreiro afirmou que a unidade de saúde está “sobrecarregada” durante toda esta semana. “Fora do normal o número de pessoas que está vindo aqui. A semana inteira assim e quando chega o fim da tarde lota ainda mais e vai até o outro dia”, disse também em anonimato.
Segundo ele, o fechamento do Pronto-atendimento do Hospital Júlia Kubistchek agravou a situação. “Aqui era até rápido, mas fechou lá e complicou”, comentou. Este funcionário ainda negou que tenha ocorrido mortes que atrasaram.
Na entrada da UPA Barreiro um quadro mostra a relação dos profissionais para atendimento nesta quinta:
Médicos de referência
Enfermeiro de referência
Plantonistas
PBH
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que, "nesta quinta, a demanda de casos leves, de pacientes classificados como verde, tem sido maior".
"Isso impacta no tempo de atendimento. A unidade adota o sistema de classificação de risco do Protocolo de Manchester, sendo priorizado o atendimento de pacientes mais graves, o que pode impactar no tempo de espera para os casos menos graves. Foram classificados 155 pacientes, sendo 113 como verde", afirmou em trecho da nota encaminhada.
Matéria atualizada às 17h43