“A gente viu a poeira subindo, e minha irmã já começou a gritar, falando que a casa estava caindo”. As palavras do pedreiro David Martins, de 36 anos, morador do bairro Santana do Cafezal, localizado no aglomerado da Serra, na região Centro-Sul de BH, são uma mostra do desespero vivido por quem perdeu tudo durante a chuva na noite de ontem, após uma casa ter desabado na rua Doutor Camilo Antonio Nogueira. Outros sete imóveis foram interditados por danos estruturais, e 24 pessoas precisaram deixar tudo para trás – 17 são parentes e moravam no mesmo imóvel. 

Para Oswaldo Luiz Ribeiro, de 67 anos, o drama vivido pelos moradores da rua é uma tragédia anunciada. Dono da casa de dois andares que desabou, o idoso já havia abandonado o imóvel ao perceber sinais de abalo. “Nós já estávamos esperando. Essa rua toda tem problemas, uma hora ou outra ia acontecer. Eu fico feliz de não ter morrido ninguém, porque os bens a gente recupera”, desabafou. 

Ao desabar, a casa de Ribeiro atingiu em cheio o imóvel do irmão dele, José Ângelo, de 64 anos. A construção abrigava 17 pessoas, agora alojadas em casas de parentes. 


Filha de Ângelo, a auxiliar de serviços gerais Jéssica Ribeiro, de 27 anos, contou que a família já havia detectado trincas na casa do tio. A moradora afirmou ter acionado a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), mas, segundo ela, a ajuda nunca veio. “Há mais de dez anos que a gente luta. Na época de chuva, ligamos lá, mas eles falavam que não tinha risco de cair”, reclamou. 

Resposta

Por meio de nota, a Urbel informou  que não há registros de chamados de vistoria para o imóvel que caiu. "O último pedido foi realizado pelo morador da residência número 156, no ano de 2001, onde foi identificado risco geológico baixo", afimou a assessoria de imprensa do órgão. Uma vistoria realizada por técnicos da empresa constatou que a casa que caiu era considerada  risco construtivo – quando a obra é realizada sem orientação técnica.

Ainda segundo a companhia, a Defesa Civil isolou quatro imóveis, onde viviam 24 pessoas e outros quatro foram interditados pela Urbel. O número total de atingidos ainda está sendo levantado pelo órgão, que afirmou ter ofertado abrigo a todas as famílias. "As mesmas decidiram ir para casa de parentes", garantiu. (Com Clarisse Souza)