Na zona quente da tragédia – onde centenas de pessoas continuam desaparecidas desde o rompimento da barragem I da mina de Córrego do Feijão –, militares do Corpo de Bombeiros que rastejam pela lama na busca incessante por vítimas começaram a sentir os efeitos do contato constante com os rejeitos de minério. A corporação confirmou nesta segunda-feira (28) que alguns agentes precisaram abandonar o trabalho de resgate depois de apresentarem sintomas, como náuseas e vômitos.

A gerente executiva de gestão ambiental da Vale, Gleuza Jesué, afirmou nesta segunda-feira que a empresa está fazendo uma análise laboratorial do rejeito para saber se o material representa risco para a saúde. O laudo deve ficar pronto em até 15 dias. Enquanto isso, os militares são acompanhados de perto por uma equipe médica do Corpo de Bombeiros.

A corporação não informou quantos militares passaram mal nem se eles serão afastados permanentemente do trabalho de resgate em Brumadinho, na região metropolitana da capital. De acordo com a assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros, a contaminação por vírus ou bactérias é considerada previsível durante operações desse tipo o resgate das vítimas não será prejudicado.

Infecções

Segundo especialistas, o lamaçal que varreu a região pode esconder microrganismos nocivos à saúde. Entre as principais ameaças, a coordenadora do serviço de epidemiologia e controle de infecções da rede Mater Dei, Silvana de Barros Ricardo, destacou as infecções gastrointestinais como as mais comuns. “Se a pessoa apresentar náuseas, vômitos, dor abdominal e diarreia, ela deve ficar atenta e procurar assistência médica”, orientou. As condições na área do desastre também favorecem a contaminação por enfermidades, como tétano, hepatite A e febre tifoide, alertou Silvana.

“Certamente, ali não tinha só lama. Tem contaminação por dejetos humanos e de animais, além de corpos em estado de deterioração”, pontuou o médico infectologista Carlos Starling. De acordo com o especialista, a possibilidade de a enxurrada de lama ter carregado dejetos de ratos, por exemplo, eleva o risco de leptospirose.

Na avaliação de Starling, o risco de contaminação pelo material que compõe os rejeitos de minério da Vale também não pode ser descartado ainda. “A possibilidade maior é de intoxicação por metais, por produtos químicos”, opinou o infectologista.

 

Rejeitos no São Francisco em 20 dias

A lama com os rejeitos de minério de ferro da barragem da Vale deve chegar à usina hidrelétrica de Três Marias, no rio São Francisco, entre os dias 15 e 20 de fevereiro. A previsão consta num boletim de monitoramento do rio Paraopeba divulgado nesta segunda-feira pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

O rio Paraopeba, que passa por Brumadinho e carrega a lama com os rejeitos, é um dos principais afluentes do São Francisco. A lama se desloca a uma velocidade média de 1 km/h e deve chegar nesta terça-feira (29) à região de São José da Varginha.

Desapareceram

O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba, Winston Caetano de Souza, afirmou nesta segunda-feira que os córregos do Feijão e Ferro do Carvão, afluentes do rio Paraopeba, desapareceram ao serem tomados pelos rejeitos da barragem da Vale. A entidade acompanha a situação dos córregos para avaliar se os danos serão permanentes e também monitora o trajeto da lama pelo rio Paraopeba.