A investigação da doença misteriosa que provocou a morte fulminante de duas pessoas da mesma família, em São Francisco, no Norte de Minas Gerais, não deve descartar nenhuma hipótese diagnóstica até que a causa exata dos óbitos seja confirmada. O alerta é do médico infectologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Klinger Soares Faíco Filho. O especialista avalia que a associação de sintomas respiratórios e hemorrágicos — apresentados pelas vítimas da infecção — pode indicar tanto um vírus que entrou em circulação quanto o agravamento de infecções já conhecidas. 

No município, os casos foram classificados como Evento de Importância para a Saúde Pública (EISP), e as autoridades de saúde em níveis federal, estadual e municipal apuram os "sintomas inespecíficos" observados até o momento nos pacientes. Duas pessoas de uma mesma família morreram em curto intervalo de tempo, e um terceiro recebeu alta hospitalar. O estado de saúde de outras dezenas de pessoas está sendo monitorado.

“Quando surgem casos que acometem várias pessoas, a investigação epidemiológica busca algum vínculo comum que conecte todos os pacientes. Foram mortes abruptas, o que amplia o leque de hipóteses diagnósticas. Pode se tratar de uma doença que entrou em circulação ou da associação de infecções já conhecidas. Por isso, a investigação de surtos é tão importante”, avalia o médico infectologista Klinger Soares Faíco Filho.

Segundo ele, a presença de sintomas hemorrágicos acende um alerta para vírus como arenavírus, hantavírus e flavivírus — todos associados a febres hemorrágicas. Um dos moradores vitimados pela doença misteriosa na cidade de São Francisco teve resultado positivo para influenza. No entanto, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), outras amostras clínicas "seguem em análise para confirmação etiológica (identificação da causa exata) e exclusão de outras hipóteses diagnósticas".

+ Ministério da Saúde investiga doença misteriosa após mortes ‘fulminantes’ no Norte de MG

Klinger Faíco avalia que a influenza pode estar associada a outras complicações e concorda que a apuração não deve ser encerrada apenas com esse resultado de exame. "Com o laudo, a investigação epidemiológica tentará encontrar algum nexo causal. A influenza pode, sim, levar a uma disfunção plaquetária (quando as células do sangue não funcionam corretamente), mas ainda é preciso descartar outras hipóteses de infecção. Ou seja, a influenza pode ser uma causa adicional, e não a única. A investigação precisa desvendar esse mistério", orienta.

Isolamento e prevenção são cruciais no momento 

Como parte das ações de prevenção à doença misteriosa, um protocolo de sanitização foi aplicado em São Francisco, com a higienização das residências dos casos investigados, além da vizinhança e das unidades de saúde. No Hospital Geral Doutor Brício de Castro Dourado, onde os pacientes estão sendo atendidos, o uso de máscara de proteção tornou-se obrigatório.

O médico infectologista Klinger Soares Faíco Filho alerta para a importância do isolamento dos casos, principalmente para tentar controlar novas infecções. "Como não sabemos do que se trata, é crucial isolar todos os pacientes para monitoramento e avanço da investigação. Pode-se adotar um protocolo semelhante ao que aprendemos durante a pandemia de covid-19, com etiqueta respiratória e isolamento", reforça.

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde, junto com a Secretaria Estadual (SES-MG), orienta a população "a manter a calma e a adotar medidas de prevenção contra influenza e outras doenças respiratórias".

Orientação 

A Secretaria Municipal de São Francisco e a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) orientam que, ao apresentar sintomas como febre, tosse, dor de garganta ou cansaço, o morador deve adotar as seguintes medidas:

• Evite sair de casa.
• Não participe de eventos ou aglomerações.
• Utilize máscara de proteção.
• Não compartilhe objetos de uso pessoal.
• Higienize as mãos frequentemente.
• Mantenha os ambientes ventilados.
• Procure atendimento médico imediato caso apresente sinais de agravamento (falta de ar, febre persistente, confusão mental ou coloração azulada nos lábios/rosto).