Enquanto as equipes de resgate ainda tentam encontrar sobreviventes e contabilizam as vítimas do rompimento da barragem I da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, que deixou 99 mortos e 259 desaparecidos, ambientalistas avaliam o impacto que a onda de rejeitos causou no ecossistema da região.

Nesta quarta-feira (30), integrantes dos Comitês de Bacias Hidrográficas de Minas Gerais apontaram o desaparecimento de dois riachos que passavam por Brumadinho após o rompimento da barragem. Segundo o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e integrante do projeto Manuelzão Marcus Vinícius Polignano, os córregos do Feijão e Ferro do Carvão foram “varridos do mapa”.

“Os dois córregos foram absolutamente destruídos, e houve comprometimento do rio Paraopeba”, disse o professor em entrevista coletiva. Segundo ele, a pluma, formada pela mistura de água e rejeitos, passou do limite de Igarapé, na região metropolitana de Belo Horizonte e está chegando a Pará de Minas, na região Centro-Oeste de Minas, onde a mineradora Vale, responsável pela tragédia, se comprometeu a instalar uma membrana de contenção para tentar minimizar os efeitos.

Segundo Polignano, a lama tem uma solubilidade menor do que a da tragédia de Mariana, há três anos, e, por isso, não tem a mesma intensidade de propagação. Segundo um boletim do Serviço Geológico do Brasil, gerido pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) – estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia –, a previsão é que a onda de rejeitos se desloque até a usina hidrelétrica de Retiro Baixo, em Felixlândia, na região Central de Minas, em quatro ou cinco dias. Ainda segundo a CPRM, a previsão é que a pluma não alcance a usina de Três Marias.

A foz do rio Paraopeba, no encontro com o rio São Francisco, ocorre justamente na represa de Três Marias, onde fica a hidrelétrica administrada pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig).

Apesar da apreensão, o professor tem a expectativa de que a lama não atinja o Velho Chico. “A esperança é que essa onda se detenha na usina de Retiro Baixo e não chegue até o lago de Três Marias”, disse.

Preocupação

Após o comunicado da Vale de que todas as suas barragens a montante serão desativadas no Estado, o professor demonstrou preocupação com as estruturas do tipo geridas por outras companhias.

“Nós não temos só a Vale em Minas Gerais. Qual vai ser a atitude do Estado? O que vai acontecer com outras barragens?”, questionou Polignano.