A tarde de 25 de janeiro começou com tons de expectativa para o fim de semana. Minha pauta do dia estava em andamento, quando informações de que uma nova barragem da Vale havia rompido, desta vez em Brumadinho, na região metropolitana, surgiram na redação. Os 125 km que separam geograficamente Mariana, cidade arrasada pela mesma tragédia há pouco mais de três anos, de Brumadinho pareciam inexistentes, tamanha a semelhança do drama. Por mais que tivesse alimentado o desejo de que tudo não passasse de um trote e, depois, que ao menos não houvesse vítimas, tudo foi em vão. Os números eram assustadores: centenas de pessoas estavam nos locais mais atingidos: o refeitório e a área administrativa da mineradora, comunidades no entorno de Córrego do Feijão e a pousada Nova Estância. Junto com a barragem, vieram abaixo os sorrisos de dezenas de colegas naquele dia de trabalho. Pouco tempo depois da confirmação de órgãos oficiais, minha constatação veio em um sobrevoo que me deixou absolutamente consternada. Olhava aquela imensidão de lama por cima e não conseguia deixar de pensar em quantas pessoas tiveram seus destinos atravessados por ela. Do que as vítimas falavam na hora da tragédia? O que planejavam para aquele dia? Como ficariam esposas, maridos, filhos, pais e irmãos diante da perda? Desde então, temos enfrentado jornadas sem hora para acabar em busca das identidades escondidas debaixo daquele tsunami de rejeitos. Essas vítimas não são apenas números. Não foi fácil assistir a cenas como a da família que rezou fervorosamente ao acreditar que a estagiária administrativa da Vale Nathália de Oliveira, 25, teria sido encontrada com vida. A euforia deu lugar à frustração quando se soube que o que havia sido localizado seria uma indicação do local em que o celular dela estaria após a tragédia, a Cachoeira das Ostras, ponto oposto à região afetada. A esperança inabalável do vigilante Jorge Santana Araújo, 28, me chamou atenção. Em meio a tanta dor, ainda pediu compreensão: “Não me julguem. Não estou sendo negligente, é a minha mulher”. Guardo lições positivas para a vida: a solidariedade traduzida em abraços longos e silenciosos de voluntários de várias partes do país, que destinavam seu alento para apaziguar dores que ficarão para sempre.