Tensão

Moradores de Brumadinho temem que Bombeiros não consigam achar mais corpos

O medo que é seus parentes desaparecidos não sejam localizados no mar de lama e que não tenham um corpo para velar

Por Pedro Ferreira
Publicado em 09 de fevereiro de 2019 | 12:46
 
 
 
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Depois de mais de 30 horas sem localização de corpos em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, parentes de vítimas do rompimento da barragem I de Córrego de Feijão, da mineradora Vale, estão entrando em desespero. O medo que é seus parentes desaparecidos não sejam localizados no mar de lama e que não tenham um corpo para velar, sepultar e tentar, assim, reconstituir a vida.

Da casa da cozinheira Cáudia Ferreira Nunes, de 47 anos, no distrito de Tejuco, ela passa o dia todo escutando o barulho dos helicópteros sobrevoando a lama. O filho dela, João Marcos Ferreira da Silva, de 25, funcionário terceirizado da Vale, continua desaparecido.

Cláudia conta que está rezando para que o corpo do filho seja localizado, para ela não ficar vivendo um eterno luto.

“Quando os helicópteros passam aqui, a gente fica com a esperança ainda de que no outro dia a gente tenha uma boa notícia, de que já encontraram o corpo. É um dor muito grande. É um helicóptero que passa para lá, outro que passa para cá, uma barulhada danada. A gente não está aguentando mais essa angústia”, disse Cláudia.

À medida que o tempo passa, segundo ela, a angústia só vai aumentando. “Uma dor que está apertando demais o meu peito. Se acharem o corpo do meu filho, eu ficaria mais aliviada. Quero fazer um enterro digno porque ele merece. Estava trabalhando, não estava à toa quando morreu. Peço a Deus, todos os dias, para que achem o corpo dele”, lamentou Cláudia, lembrando que perdeu o filho justamente no aniversário de três anos da morte de outro filho dela, de 19. “Fico com medo de não encontrar o meu filho e ficar nessa angústia para sempre”, reforça.

Cláudia conta que João Marcos morava ela e uma outra filha. “Ele tinha uma namorada e já estava construindo o barracão dele em cima da minha casa, para casar. O quarto dele está do mesmo jeito que ele deixou. Tem hora que evito entrar lá. De manhã, abro a cortina para olhar se ele está lá dormindo, mas não está. Hoje mesmo, acordei aos prantos”, disse a mãe, chorando.

A cozinheira lembra do seu último contato com o filho, quando ele saiu para trabalhar na sexta-feira, 25 de janeiro. “Ele estava muito feliz. Falou que se não fosse trabalhar no dia seguinte iria comprar peças para o carro dele e que iria pescar. Ele adorava pescar. Ele saiu alegre, cantando. Essa é a lembrança boa que tenho dele. Era um menino muito bom e me ajudava demais”, disse a cozinheira. “Quero sepultar o meu filho ao lado do irmão dele. Acordo e levanto, deito, não durmo direito, só pensando nele. Tem vez que acordo de madrugada e fico rezando para Deus ajudar a encontrar o corpo dele”, comentou a cozinheira, que disse passar o dia todo procurando sinal de celular, na esperança de receber a notícia de que o corpo foi localizado.

BUSCAS

O sábado amanheceu com bastante neblina em Brumadinho e os bombeiros recomeçaram as buscas por volta das 8h. Esse é o 16º dia de trabalho. Desde sexta-feira, nenhum corpo foi localizado.

De acordo com o balanço da defesa civil, divulgado sexta-feira à noite, o número de vítimas localizadas não mudou em relação a quinta-feira.

Ao todo, 157 corpos foram localizados e 165 pessoas continuam desaparecidas.

As buscas deste sábado contam com 390 militares, sendo 159 do Corpo de Bombeiros, 64 da força nacional, 130 militares de outros estados e 37 voluntários.

O foco das buscas estão na Usina ITM, na área administrativa da Vale, onde ficavam o refeitório, casa e estacionamento, e também a área da ferrovia e onde há acúmulo de rejeito. São 37 equipes em campo, 39 máquinas em operação, 12 helicópteros e 17 cães.

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