Mesmo tendo perdido dois familiares e sete amigos na tragédia em Brumadinho, na região metropolitana, na última sexta-feira, o pintor Horácio Sattler tem sido guia do Corpo de Bombeiros. Ele está ajudando os militares a entrarem na mata da região de Córrego do Feijão, principal local atingido pela avalanche de lama após o rompimento da barragem da mineradora Vale.

Sattler conversou com a reportagem em uma plantação de verduras tomada pelos rejeitos de minério, onde falou em especial do amigo Rodrigo Monteiro, um dos sete que desapareceram na tragédia. Segundo ele, dois parentes também sumiram.

O pintor explicou que o amigo Rodrigo estava no vestiário do refeitório da mineradora na hora do rompimento. O desaparecido era funcionário terceirizado. “Desde novos, estudamos juntos”, ele disse.

Ajuda nas Buscas

Por conhecerem a área, Sattler e mais três amigos adentraram uma mata situada perto do pontilhão ferroviário e conseguiram localizar um corpo na última segunda-feira.

“Assim que vimos, avisamos aos bombeiros porque não podemos meter a mão num corpo. Ficamos tristes, já choramos, mas vamos que vamos. A gente não pode parar. Enfrentamos água, devastamos o mato, resgatamos um cachorro e achamos uma casa que tinha só escombros”, relatou.

O pintor disse acreditar que o número de mortos em decorrência do rompimento da barragem deve ultrapassar os 150 – até a noite desta terça-feira (29), 84 corpos tinham sido resgatados. “Só quero que esse processo seja agilizado o mais rápido possível porque, quando o barro secar, já era”, concluiu.

Medo de furtos

É em uma casa simples, de três cômodos e com um quintal, que os irmãos Marlene Resende, 74, e Antônio Dias, 60, moram há 25 anos no Parque da Cachoeira, um dos pontos de Brumadinho mais atingidos pelo rompimento da barragem da Vale. No local só restou uma grande extensão de lama.

No dia tragédia, eles escaparam com a ajuda de uma vizinha e se abrigaram na casa de um irmão. Mas, na última segunda-feira, voltaram para o imóvel. Mesmo sem dormir por conta do medo de outra tragédia, eles não querem deixar a casa. “Quem sai pode ser roubado”, disse Marlene.

Mudança

O voluntário Horácio Sattler mora na região central de Brumadinho, mas quer se mudar com a mãe: “Na primeira oportunidade que der, a gente vai ‘vazar’. Como a gente vai viver agora?”.