Soterrados pela lama

Tragédia de Brumadinho é uma das maiores da história

Até as 21h30 deste sábado (26), havia 34 mortes confirmadas e mais de 250 pessoas continuavam desaparecidas

Por Tatiana Lagôa,Queila Ariadne e Aline Diniz
Publicado em 27 de janeiro de 2019 | 03:00
 
 
 
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No terceiro dia após o rompimento da barragem I da mina de Córrego do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, as buscas continuam no mar de lama que se formou no local. Mas, à medida que o tempo passa, as esperanças de encontrar pessoas vivas entre as centenas de desaparecidos diminuem. A tragédia, que já é tratada como a maior de Minas, caminha para ser um dos principais desastres do país em perdas humanas.

Até o fim da noite deste sábado (26), o governo do Estado confirmava 34 mortes. Segundo o Corpo de Bombeiros, há ainda 296 funcionários da Vale e de empresas terceirizadas desaparecidos. Mas os dados não coincidem com a lista da empresa, que dá conta de 243 sumiços. A divergência de informações inviabiliza uma certeza quanto ao tamanho da tragédia. Sem contar que o número exclui comunidades ribeirinhas e turistas.

O coronel Anderson de Almeida, comandante operacional da corporação, disse que a equipe não tinha sido procurada por parentes ou amigos de pessoas não ligadas à Vale em busca de desaparecidos. “Não temos reclamações. Não significa que não temos vítimas”, afirmou. Contudo, segundo nota divulgada pelos próprios bombeiros na madrugada deste sábado, só na pousada Nova Estância estavam 35 pessoas e, na região do Parque da Cachoeira, mais 140. Esses locais foram tomados pela lama.

A estatística preocupa o poder público. “Ambientalmente, o rompimento da barragem da Samarco (em Mariana) teve magnitude superior. Mas nesse (Brumadinho), tivemos uma perda lastimável de vidas”, afirma o secretário de Meio Ambiente do Estado, Germano Vieira, que já classifica o episódio como o mais grave ocorrido em Minas. Em Mariana, morreram 19 pessoas.

O real impacto da tragédia só será conhecido nos próximos dias. Mas, caso o prognóstico do governador de Minas, Romeu Zema (Novo), de que “só serão encontrados corpos” seja cumprido, o rompimento da barragem vai ser o de maior repercussão negativa da história do país. Comparando-se com outros desastres causados pela ação humana, um dos mais impactantes até então é o incêndio na boate Kiss, que matou 242 pessoas no Rio Grande do Sul, em 2013. Já entre as tragédias naturais, o deslizamento de terra na região serrana do Rio, com 918 mortes, encabeça a lista.

 

Chuva e rejeitos são desafio em buscas

As buscas por desaparecidos e corpos estão mais difíceis em Brumadinho do que foram em Mariana, quando a barragem de Fundão se rompeu. Chuva e tipo de rejeitos são dois dos inúmeros desafios enfrentados agora pela equipe de resgate, segundo o coronel Anderson de Almeida, comandante operacional da corporação.

“Aqui é muito diferente do cenário de Mariana. Lá, o rejeito de minério era mais líquido. Aqui, a composição do minério está mais sedimentada. É mais difícil até de se locomover”, ressaltou o comandante. Em Mariana, os bombeiros enxergavam os tetos das casas; em Brumadinho, eles não conseguem ver nada. “Estamos com cerca de 8 m (de altura) de rejeito acima”, diz.

Neste sábado, choveu por três horas na cidade, forçando uma parada de 50 minutos no resgate. Mas, segundo Almeida, mesmo que esse tempo continue, os trabalhos só vão parar se a precipitação oferecer alto risco. As buscas não devem ser interrompidas pelas próximas semanas.

Números

Resgate

Segundo o governo do Estado, 23 pessoas foram levadas para hospitais. Além disso, 366 pessoas foram resgatadas, sendo 221 funcionários da Vale e 145 terceirizados. 

Equipe

Ao todo, 205 bombeiros buscam sobreviventes e resgatam corpos na cidade de Brumadinho.

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