A paralisação do metrô que afeta cerca de 100 mil passageiros por dia na região metropolitana de Belo Horizonte não é novidade. Um levantamento feito pelo jornal O TEMPO com alguns dados disponibilizados pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) mostra que o serviço ficou em greve ou paralisação parcial por 101 dias desde 1º de janeiro de 2022.

Considerando que desde então foram 411 dias decorridos, significa dizer que o metrô de Belo Horizonte não funcionou em um a cada quatro dias, em média. A maior paralisação ocorreu por mais de 40 dias entre março e maio de 2022, o que é tida como a maior paralisação da história da categoria no Estado.

De acordo com a CBTU, esse movimento, que foi de 21 de março a 1º de maio, foi feito pelos metroviários descumprindo liminar do Tribunal Regional do Trabalho, que definia o funcionamento do metrô nos horários de pico, assim como nos dias de paralisação total. Durante parte deste período, os trens circulavam em horário alternativo, como de 10h às 17h.

O ano passado iniciou, desde o primeiro dia, com paralisação da categoria. E no final do ano, enquanto o metrô ia a leilão na Bolsa de Valores em São Paulo, um outro ato foi convocado pelos metroviários, que pararam por nove dias na capital mineira.

Apesar de multas serem aplicadas durante as greves e paralisações, a CBTU chegou a informar à reportagem que o último valor pago pelo Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais (Sindimetro-MG) foi referente a uma manifestação de 2016. 

"A Companhia informa que a última multa executada pelo Tribunal Regional do Trabalho ao sindicato dos metroviários foi paga em 2018, referente ao Processo Judicial nº 0010652-14.2016.5.03.0000, do ano de 2016. A medida do TRT foi devida à paralisação total do sistema metroviário no dia 16 de maio de 2016, quando haviam ordens judiciais que estabeleciam percentuais mínimos de funcionamento do serviço, visando o atendimento das necessidades da população que depende do transporte sobre trilhos na cidade. O valor total pago foi de R$ 139.461,03, quitado em 10 parcelas iguais, sendo a primeira parcela em 20/11/2018", disse a CBTU por meio de nota. 

Sobre as multas relativas às greves desde o final de 2021, a CBTU disse que elas "serão executadas oportunamente, observando as fases processuais pertinentes".

Leilão

Com lance único de R$ 25,75 milhões, o Grupo Comporte — que reúne empresas de transporte rodoviário e urbano de passageiros, cargas e turismos — venceu o leilão de concessão do metrô de Belo Horizonte, realizado em 22 de dezembro na Bolsa de Valores de São Paulo (B3).

Com o resultado, a empresa se compromete a revitalizar a linha 1 e a criar a linha 2 ao longo dos próximos 30 anos. Para que as melhorias saiam do papel, há previsão de investimentos de R$ 3,7 bilhões. A maioria dos recursos sairá de cofres públicos: cerca de R$ 2,8 bilhões serão desembolsados pelo governo federal e R$ 440 mil pelo governo estadual. O restante será de responsabilidade da empresa.

Relembre as greves

O metrô começou o ano de 2022 em greve, iniciada em 23 de dezembro de 2021. O ato durou até 8 de janeiro, com a operação dos trens ocorrendo apenas nos horários de pico, das 5h30 às 10h e das 16h30 às 20h.

Cerca de três meses depois, os metroviários anunciaram aquela que se tornaria a maior paralisação da história do metrô de BH. Entre 21 de março e 1º de maio, os trens funcionaram em escala mínima, mas, desta vez, das 10h às 17h, sem abranger os horários de pico. A operação foi afetada por 42 dias. Após promessas de diálogo por parte do governo federal sobre a condução da privatização do metrô de BH, a categoria suspendeu o movimento. 

Os metroviários retomaram a greve em 25 de agosto, após o Tribunal de Contas da União (TCU) aprovar a publicação do edital de concessão da CBTU à iniciativa privada. Por dois dias, os servidores paralisaram totalmente às atividades. 

No dia seguinte ao início da greve, no entanto, o Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (TRT-MG) estipulou escala mínima de 60% dos horários de operação habituais, sob pena de multa de R$ 35 mil para o sindicato em caso de descumprimento. 

Com isso, os trens passaram a operar, a partir do dia 27, com 60% das viagens, distribuídas durante todo o dia, das 5h15 às 23h. Embora o metrô funcionasse no horário habitual, houve aumento do tempo de espera, que chegou a 25 minutos aos dias de semana — nos horários de pico eram 9 minutos — 25 aos sábados e 32 aos domingos. 

A paralisação durou até 1º de outubro, e o movimento foi reestabelecido a partir do dia 2, domingo do primeiro turno das eleições. Nos dias 5 e 6 de outubro houve nova paralisação total, quando a categoria manifestou na Praça da Estação contra a privatização da CBTU.

À época, o TRT dobrou o valor da multa para o caso de descumprimento da determinação que exigia um mínimo de 60% dos trens rodando, mas, ainda assim, houve a paralisação.