Com a presença de um público reduzido de fiéis devido a pandemia de coronavírus, o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo celebrou na tarde desta sexta-feira (31), no Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, na região Metropolitana, a missa pelos 60 anos da consagração de Minas Gerais à padroeira do Estado – Nossa Senhora da Piedade. Na prática, a data celebra o reconhecimento da padroeira de Minas Gerais pelo Vaticano, no dia 31 de julho de 1960, pelo papa João XXIII.
A tradicional missa geralmente marca o início da peregrinação de fiéis, que todos os anos, há dois séculos e meio, chegam de várias partes do estado e do país para subir a serra onde está localizada a basílica, sempre nos finais de semana compreendidos entre a data da celebração – todo dia 31 de julho – e meados do mês de setembro. Durante a celebração, dom Walmor ressaltou a importância de dar valor às coisas que realmente valem a pena na vida.
“Não podemos, e a festa de hoje nos está convidando a isso, perder tempo com bate boca. Perder tempo com mesquinhez, com polarizações e acusações. Nós precisamos usar o tempo que Deus nos dá a graça de viver para construir. Por isso essa festa é uma festa convidando a todo o povo brasileiro, a nossa igreja em especial, mas a cada cidadão. A instâncias governamentais em todos os níveis: federal, estadual e municipal. Aos segmentos da sociedade, para se deixarem se encontrar por esse olhar de misericórdia”, disse o arcebispo .
É a primeira vez em 250 anos que as peregrinações não vão ocorrer. De acordo com a arquidiocese de Belo Horizonte que administra ao santuário, em 2019, cinco mil peregrinos vicentinos visitaram a basílica. Os 60 anos da consagração marcam o Jubileu de Diamante, ponto alto das celebrações religiosas no Estado, pela primeira vez transmitida pelas redes sociais. Em sua fala, dom Walmor também fez críticas aos rumos tomados pela sociedade, frente ao caos instalado pela pandemia no país e a mineração desenfreada.
“Estamos assombrados. Assombrados com a pandemia do Covid-19. Assombrados com quase 100 mil mortos na nossa sociedade brasileira. Assombrados com o número de infectados. Assombrados com os descompassos na política. Assombrados com os atentados contra a democracia. Assombrados com a falta de limites da mineração que desrespeita aqui e em muitos lugares o sagrado do território, mas também o sagrado da natureza, ajudando a esgotar cada vez mais o meio ambiente. Fazendo do nosso mundo, um mundo doente. E como disse o papa Francisco, em um mundo doente vai viver gente doente”, disse dom Walmor.
Celebração
A missa na basílica acabou se tornando especial para o administrador ambiental, Sérgio André, 46. Depois de quatro meses assistindo as celebrações apenas pelos meios virtuais, ele diz que se sentiu privilegiado em poder ver a missa de forma presencial. “A gente estava afastado desse momento ecumênico. Foram quase quatro meses sem poder vir agradecer Deus por tudo. Então é um momento que me sinto muito privilegiado”, explica.
O administrador ambiental explica que sempre participa das romarias com a mãe. Diante do momento vivido, ele afirma que a celebração se torna ainda mais emocionante. “É uma missa dentro do novo, dentro de um momento conturbado. É uma missa que ela se torna mais emocionante ainda. Ela ficou um pouco mais calma, no sentido que não tem muita gente e mais emocionante diante de tudo o que está acontecendo no mundo”, pontua.
A mãe dele, a aposentada Maria André, também comemorou poder participar da missa de forma presencial. "Tinha quatro meses que eu estava em casa, e não saia. Eu pedia para ela (Nossa Senhora da Piedade) que o primeiro lugar que eu ia sair era pra vir nessa igreja. Eu já vim aqui muitas vezes e ela me deu a graça de vir aqui primeiro e comungar depois de quatro meses", disse animada.
Basílica
A construção da basílica de Nossa Senhora da Piedade reúne muitas histórias e crenças. Segundo a tradição, no século 18, uma jovem, surda e muda de nascença, passou a ouvir e a falar após testemunhar a aparição de Nossa Senhora, no alto da Serra. Desde então, o local passou a receber peregrinos e foi edificada uma singela igreja, dedicada a Nossa Senhora da Piedade, onde teria ocorrido o milagre. No altar desta igreja, a imagem de Maria, com Jesus nos braços, é uma das primeiras obras de Antonio Franciso Lisboa, o Aleijadinho, mestre do barroco mineiro.
Mais recentemente, em 2017, a singela igreja construída no século 18, conhecida como Ermida da Padroeira de Minas Gerais, foi elevada a basílica pelo Papa Francisco. É a menor basílica do mundo.