Desde o último mês com a liberação para a realização de casamentos em Belo Horizonte, o que não falta é noiva diante de um calendário tentando encontrar uma data disponível. Com o retorno dos eventos, o desafio entre os fornecedores é conseguir realizar todos os casamentos que foram remarcados, além dos que já estavam planejados para 2021.
Nas igrejas mais tradicionais da capital, como a Basílica de Lourdes e a Igreja da Boa Viagem, na região Centro-Sul, a maioria das datas só está disponível para o ano que vem. Quem desejar uma vaga na Igrejinha da Pampulha também vai precisar de sorte.
“Se eu tivesse três espaços, teria a agenda lotada para todos e o mês inteiro”, confessa a proprietária da Fazenda Arraial Velho, Marlene Sena. No local, em Sabará, os agendamentos já estão para 2023.
Com a agenda também cheia e em algumas datas já até fechadas por conta da alta demanda, a confeiteira Ana Carolina Paranhos, sócia da Doce Carol, precisou aumentar o número de funcionários após a flexibilização dos eventos em Belo Horizonte. Só no último mês, ela contratou cinco pessoas.
“O prefeito anunciou a medida em uma quinta, no mesmo dia os pedidos voltaram a ser feitos. Tínhamos 11 pessoas na equipe, mas, depois da liberação, precisamos investir mais”, conta a empresária, que tem vagas em aberto para contratação.
“Desde o início da pandemia esse é o primeiro momento que sinto que o mercado de eventos voltou. As pessoas estão ansiosas para confraternizar, reencontrar as pessoas, tanto que nos eventos que estamos fazendo nem tem mais desistências dos convidados, todo mundo quer ir. Para 2022, a agenda está quase cheia”, diz.
No ateliê Nina Gabriela, a estilista Gabriela Kaniski está com a agenda praticamente preenchida para os próximos dois anos. Com a grande procura, os atendimentos têm sido feitos até aos domingos e somente com hora marcada. “Tenho 38 casamentos só para setembro”, conta a empresária.
No Antônia Atelier, a artista plástica Valquíria Dias Coelho Fragoso precisou mudar até o tempo de confecção dos vestidos. “Antes, a gente demorava em média até um ano para finalizar um vestido, agora tem que fazer em quatro meses, no máximo. Com a incerteza da realização ou não das festas, as noivas ficaram com receio de olhar o vestido da festa e se frustrar por não ter uma data. Agora, com a possibilidade de eventos, a esperança voltou”, conta.
Em busca do sonho
A corrida contra o tempo foi tanta que a analista de marketing Nathália Fernanda de Freitas, 25, conseguiu remarcar o casamento só para 2022. Já casada no civil, a festa vai acontecer dois anos após a oficialização da união. “Todo mundo que iria se casar em 2020 adiou, como eu, então, 2021 juntou todo mundo do ano passado e deste ano. Os fornecedores sem datas, e os preços nas alturas”, afirma a jovem, que precisou adiar o casamento por duas vezes.
“Acabou que será uma renovação de votos, comemorar que estamos vivos e junto com pessoas queridas. Espero que seja para marcar que esse tempo difícil ficou para trás também”, completa.
Por conta da pandemia, Jéssica* precisou adiar o casamento três vezes. Com o receio de que a festa pudesse sofrer mais uma remarcação, a empresária decidiu mudar o local do evento, previsto para acontecer inicialmente em um salão de festas na Pampulha. Agora, a cerimônia vai acontecer em Nova Lima, na região metropolitana.
“A situação de BH é muito incerta, e os protocolos são impraticáveis de realizar. Como consigo garantir que todos os convidados vão conseguir fazer o teste antes? Fazer o teste lá na hora? Além do tempo hábil, tem a questão dos valores”, desabafa a empresária.
Em Sabará, a proprietária da Fazenda Arraial Velho, Marlene Sena, tem recebido diversos casamentos que seriam realizados na capital. A cidade, assim como Nova Lima, segue os protocolos definidos pelo Minas Consciente. Diferentemente de BH, no programa estadual são permitidas celebrações sem testagem dos convidados.
“As remarcações e os cancelamentos que eu tive acabaram sendo substituídos por outros eventos que vieram de fora. Pelo fato de Belo Horizonte ter muita restrição, nós acabamos recebendo até com o preço muito menor eventos da Pampulha, para ajudar a noiva e ajudar os espaços. Foi uma troca, um tem que olhar para o outro, porque tem sido um período difícil para todos”, conta a empresária, que defende as normas sanitárias.
Devido às restrições, alguns noivos têm buscado, inclusive, restaurantes para realizar as cerimônias. “O protocolo nesses casos acaba sendo o mesmo de um bar, tem todas as normas que precisam ser seguidas, mas não precisa do teste, por exemplo. Tem a limitação de pessoas por mesa, mas é uma alternativa mais viável”, afirma uma cerimonialista, que não quis se identificar.
(*Nome fictício )
Respostas
- BH. A PBH não explicou quais medidas têm sido tomadas para evitar a realização de casamentos com alvará de restaurantes. Informou apenas que “foi elaborado e está em vigor protocolo específico para funcionamento de bares e restaurantes”. “Todos os critérios de retomada foram definidos de forma a garantir a segurança da população”, ressaltou.
- Nova Lima. A prefeitura destacou que a fiscalização tem sido intensificada para o cumprimento das regras e que os protocolos são os determinados pelo Minas Consciente, do Estado.
- Minas Gerais. Segundo o governo, a realização de eventos deve seguir o Minas Consciente. Entre os protocolos estão controle de acesso, aferição da temperatura, agendamento de horário prévio e comunicação clara e acessível sobre a prevenção da Covid-19.
- Sabará. Até o fechamento desta edição, a prefeitura não havia se manifestado.