Montes Claros

Em sessão de tortura, PM reformado obriga mulher a comer vidro e a espanca em MG

Suspeito buscou a companheira no trabalho, a levou para um matagal e a torturou por uma hora para que ela confessasse uma suposta traição; mulher pulou de carro para fugir

Por Lara Alves
Publicado em 23 de novembro de 2020 | 12:04
 
 
 
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Cerca de uma década de agressões e episódios de violência não será esquecida por uma mulher de 37 anos, internada no sábado (21) em um hospital de Montes Claros, na região Norte de Minas Gerais, após pular de um carro em movimento para garantir a própria sobrevivência. Minutos antes de jogar-se na rua, ela era torturada pelo próprio companheiro que no transcorrer de uma hora a obrigou a mastigar e engolir cacos de vidro, rasgou as pernas dela com um pedaço de cerâmica e a espancou com socos, chutes e até mesmo um pedaço de osso animal.

O suspeito, um soldado reformado de 41 anos, foi detido e está no batalhão da Polícia Militar (PM). Um inquérito foi aberto pela Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) nesta segunda-feira (23) analisará o crime – sabe-se, entretanto, de antemão, que as primeiras ocorrências registradas pela mulher contra o companheiro datam de oito anos atrás, pelo menos.

A sessão de tortura a que ela foi submetida no sábado foi a última de uma série de agressões cometidas pelo homem que, segundo informações preliminares, foi aposentado da corporação militar por problemas psiquiátricos. O crime que levou à prisão dele começou no início da tarde quando ele saiu da residência em que mora com a mulher para buscá-la no trabalho. Logo no trajeto de retorno, ele teria começado a questioná-la sobre uma suposta traição e agredi-la com soco e tapas. Ele dirigiu com ela até um povoado de Montes Claros conhecido como Cabeceiras, onde parou o carro e obrigou que ela fosse até um matagal, como esclarece a delegada Karine Maia Costa, na unidade especializada de atendimento à mulher no município do Norte de Minas.

“Ela foi torturada para que confessa uma suposta traição. Nós sabemos que ela foi agredida com um pedaço de osso animal, acredita-se que de uma vaca ou de um boi e cortada nas pernas com um pedaço de vaso sanitário de cerâmica. Ele obrigou que ela mastigasse vidro. Foram chutes, socos, puxões de cabelo… Ela está muito machucada. A tortura aconteceu em cerca de uma hora, e logo depois ele colocou ela no carro e retornou a Montes Claros”, detalha. Histórico policial indica que as agressões continuaram no trajeto, até que a mulher decidiu abrir a porta do carro e se jogar para fora como única maneira de garantir a própria vida.

Após cair no chão, ela teria corrido em direção a um hospital, lugar mais próximo de onde ela pulou. Logo que entrou na recepção, ela pediu ajuda e desmaiou. O exame do corpo de delito começou a ser feito no sábado, mas ela se sentiu mal e foi necessário levá-la outra vez à unidade de saúde. “Foi constatado que ela sofreu muitos hematomas e escoriações. Temos que analisar, esperar um certo prazo, para saber se foi tortura qualificada com lesão corporal grave ou gravíssimo. Ainda será feito um exame ortopédico para saber se há fraturas”, esclarece a delegada.

De acordo com ela, análises preliminares indicam que a mulher registra ocorrências contra o suspeito há mais de oito anos, e há entre eles uma relação de curatela: juntos por união estável, ela é curadora de bens dele, que há alguns anos foi interditado em função da suposta doença psiquiátrica que o afastou da Polícia Militar. “Nós sabemos que existe um histórico de agressões. Há pedidos de medidas protetivas e ocorrências contra ele mesmo antes da existência da Delegacia de Mulheres, antes de 2012. Mas, em nenhuma das ocorrências ela optou por tomar providências. Agora nós vamos interrogar os envolvimentos e iniciar as diligências”, afirma a delegada Karine Maia Costa. A vítima foi liberada do hospital, e recupera-se em casa com os dois filhos do casal. 

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