Lei de Execução Penal

Entenda a saída temporária de suspeito de atirar contra sargento da PM

O jovem de 25 anos, que não tinha falta grave no atestado carcerário, tinha mandado de prisão em aberto após não retornar ao presídio em prazo estipulado

Por Gabriel Ferreira Borges
Publicado em 07 de janeiro de 2024 | 15:06
 
 
 
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O suspeito, 25 anos, de atirar à queima-roupa contra o sargento da Polícia Militar Roger Dias da Cunha, 29, cujo quadro é considerado irreversível, gozava de uma saída temporária do Presídio Antônio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde estava desde agosto. A saída temporária, popularmente conhecida como “saidinha”, é um benefício previsto na Lei de Execuções Penais - 7.210/1984 - para presos em regime semi-aberto. 

Durante todo o ano, como forma de ressocialização, um custodiado em regime semi-aberto tem direito a 35 dias fora do sistema penitenciário. O período é dividido em cinco janelas, já que a autorização para a saída temporária não pode ser superior a sete dias. O benefício é concedido aos presos por comportamento adequado e cumprimento de, no mínimo, ⅙ da pena se o condenado for primário, e, no mínimo, ¼ se for reincidente.

A saída temporária é autorizada em apenas três situações: visita à família, frequência em curso profissionalizante ou instrução do 2º grau ou superior, e participação em atividades que ajudem no convívio social. No caso dos estudos, o tempo de saída é o necessário para o cumprimento das atividades. Nos demais, deve haver uma distância de, no mínimo, 45 dias entre uma saída e outra.

Entretanto, o suspeito tinha um mandado de prisão em aberto. De acordo com a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), ele não retornou ao Presídio Antônio Dutra Ladeira após a saída na data estipulada pela decisão judicial. Questionado por O TEMPO sobre quando o jovem deixou o presídio e quando deveria ter retornado, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) informou apenas que todas as informações disponíveis até o momento estão na conversão da prisão de flagrante para preventiva.  

Conforme a Associação dos Magistrados Mineiros (Amagis), o suspeito de atirar contra o sargento da PM ainda deixava diariamente o Presídio Antônio Dutra Ladeira para trabalhar desde o último mês de novembro. Entretanto, a Amagis, que ainda informou que o jovem de 25 anos não tinha falta grave no atestado carcerário e, por isso, recebeu o benefício, não disse qual atividade ele prestaria.

De acordo com o auto da prisão em flagrante após o ataque ao sargento Dias, o suspeito já foi condenado por quatro vezes por roubo, um deles à mão armada, e falsificação de identidade. Há ainda uma outra condenação por roubo, mas que, ao contrário das demais, não transitou em julgado. 

Prisão em flagrante é convertida em preventiva

Neste domingo (7/1), em audiência de custódia, a juíza Juliana Miranda Pagano converteu a prisão em flagrante dele, e do outro suspeito, 33, em preventiva. Ao determinar a conversão, Juliana argumentou que as circunstâncias são “gravíssimas”, argumentando que, além do sargento baleado, outros policiais teriam sido alvos da dupla, que atirou contra a viatura. "Foi necessária uma mobilização policial complexa e longa para captura dos autuados”, observou.

A magistrada ainda lembrou o passado criminal de ambos para provar que há risco caso eles não fiquem em detenção, sendo que o suspeito de 33 anos, que, até a prisão em flagrante, estava em liberdade condicional, ainda está em cumprimento de pena por um assassinato e tentativa de assassinato qualificada. "Tudo isso corrobora para a necessidade da conversão da prisão em flagrante em preventiva para a garantia da ordem pública", concluiu Juliana.

O caso

O sargento Dias foi atingido por disparos à queima-roupa na noite de sexta, quando guarnições do 13º Batalhão perseguiam dois suspeitos na Avenida Risoleta Neves. Em dado momento, o motorista teria perdido o controle da direção e batido contra um poste. Após o acidente, os suspeitos desceram do carro e continuaram a fuga a pé.

Um deles foi alcançado por um sargento. Imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que o militar se aproxima do suspeito e da ordem de parada, mas é surpreendido pelo criminoso, que saca uma arma e atira à queima-roupa contra o policial. 

O militar foi socorrido por colegas para o Hospital Risoleta Tolentino Neves, em Venda Nova, mas, dada a complexidade do caso, foi encaminhado para o Hospital João XXIII. O militar tem 29 anos e atua na Polícia Militar há cerca de 10 anos. Ele é pai de uma criança recém-nascida.

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