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Entregadores de aplicativos prometem paralisação geral em 1º de abril em BH

Na pauta de reclamações estão pedidos de reajuste de tarifas e fim do planejamento de jornadas de trabalho

Por Simon Nascimento
Publicado em 21 de março de 2022 | 03:00
 
 
 
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O dia 1º de abril deve ser marcado por uma paralisação geral dos entregadores de plataformas delivery. Em Belo Horizonte, o entregador P.F.D*, de 31 anos, garante que o movimento vai ser geral e deve causar transtornos às empresas.

Os pleitos em pauta são o fim de pagamentos de taxas únicas em rotas com mais de uma entrega, reajuste das taxas, fim do bloqueio dos entregadores na plataforma por pedir reembolso após aguardar clientes por períodos longos na entrega de um pedido, além do recebimento em valor integral de pedidos que foram cancelados. 

“Quando por algum motivo o cliente cancela o pedido ou não está em casa para receber, fazemos a devolução ao restaurante, e recebemos apenas metade da taxa pela devolução”, reclama. A ferramenta de planejamento, criada especificamente pelo Ifood em fevereiro deste ano, é outro alvo de críticas dos entregadores.

“A gente tem que agendar um período do dia para ter que trabalhar. Quando você não agenda, quase não pega rotas de entrega. Praticamente te obriga a marcar uma hora de trabalho, sendo que não há vínculo empregatício com a empresa”, acrescenta o entregador. 

Outra reclamação diz respeito à ajuda em caso de acidentes ou outros imprevistos que impedem o exercício da atividade. “Se sofrer acidente e a pessoa depender só disso para trabalhar, está desamparada. Tem muita gente que tem família, filhos”, disse.

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Um relatório publicado pelo movimento Fairwork Brasil, que acompanha as demandas de trabalho nas plataformas de delivery, apontou que em 2021, ainda sob forte influência da pandemia, os trabalhadores enfrentaram condições precárias e perigosas com relatos de problemas de saúde e acidentes.

“A Fairwork pontuou seis das maiores plataformas de trabalho digital do Brasil em cinco princípios de trabalho justo – remuneração justa, condições justas, contratos justos, gestão justa e representação justa – dando a cada plataforma uma pontuação de 0 a 10. No geral, todas as seis plataformas falharam em garantir normas trabalhistas básicas para seus trabalhadores”, diz o movimento. 

A reportagem entrou em contato com as empresas Ifood, 99food e Rappi, as principais do segmento em Minas. Em nota, a assessoria de comunicação do Ifood diz que a plataforma oferece seguro contra acidentes pessoais e mantém o compromisso de diálogo com os entregadores. A plataforma ainda informou, na última sexta-feira (18), que reajustou a taxa mínima paga aos entregadores para R$6 e a taxa do quilômetro rodado em 50%. O valor antigo era R$ 1,00 e passará para R$ 1,50. 

A Rappi, por sua vez, ressaltou que criou um fundo, de R$25 milhões, para garantir aumentos nos ganhos dos entregadores entre junho de 2021 e julho de 2022.  A 99food, por sua vez, afirmou que mantém a liberdade de escolha dos entregadores para os horários de trabalho e possibilidade de ingresso em outras plataformas.

A empresa disse que trabalha para ajudar os entregadores na geração de renda com investimentos em tecnologia e suporte. A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec), entidade que reúne plataformas com atividade delivery, enviou nota à reportagem ressaltando que as empresas associadas estão abertas para dialogar, além de trabalhar em auxílio aos entregadores para melhorar os rendimentos dos autônomos. 

No comunicado, a Amobitec ainda afirma que investe em tecnologia e suporte para aprimorar as experiências com as plataformas. "Nesse sentido, estão atentas à realidade dos diversos perfis de entregadores parceiros e reafirmam seu compromisso em dialogar de forma transparente e colaborativa", diz a associação.

*Os nomes dos entregadores foram mantidos em sigilo por temor de banimento das plataformas.

 

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