Apesar de os indicadores da Covid-19 terem registrado significativa queda desde o colapso completo do sistema de saúde da capital, quando a cidade passou por 11 dias com ocupação de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) acima de 100%, depoimentos pessoais de membros do Comitê de Enfrentamento à pandemia na cidade indicam que não deve haver flexibilização nas medidas restritivas por ora. “Passamos de uma situação dramática para uma crise administrável”, pontua Unaí Tupinambás, que compõe o grupo.
Nesta quarta-feira (14), o Comitê se reunirá com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), e o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado, em deliberação sobre próximos passos no enfrentamento à doença. Não há planos para que uma coletiva de imprensa seja convocada, conforme um articulador do Executivo informou a O TEMPO, e, caso haja alguma mudança nas regras de circulação de pessoas na cidade, ela será informada por meio de nota.
Contudo, dois dos três infectologistas não estão otimistas em relação a uma flexibilização. “O processo está muito grave. Se não tratarmos isso de forma adequada, o sofrimento vai se prolongar. Estamos entrando no outono, inverno, que transmite outros vírus. E mais: temos que proteger a vacina. Se deixar o vírus circulando solto por aí pode evadir a resposta imune da vacina. É preciso primeiro confirmar essa redução gradativa dos casos, porque se não colocamos tudo a perder”, defende Tupinambás.
O médico lamenta que, apesar da capital mineira estar com tendência de queda nos números, o cenário nacional continue fora do controle. Nesta terça-feira (13), o Ministério da Saúde informou que 3.808 mortes foram registradas nas últimas 24 horas e, no mesmo período, catalogados mais de 82 mil novos casos da doença.
“A dimensão econômica e social, que no governo genocida (de Bolsonaro) não foi pensada, dificulta a nossa posição (em Belo Horizonte). É fácil para falar ‘fique em casa’, mas ficamos sensibilizados com a pessoa que tem que sair de casa para não morrer de fome. É uma situação dramática. Não podemos falar em pandemia, é morticínio. Pandemia teve na Europa, onde tomaram medidas sanitárias que todo mundo sabe quais são. Aqui, temos um morticínio patrocinado pelo governo federal. Havia uma intencionalidade, portanto este é um governo genocida. Isso dificulta o controle da pandemia”, conclui.
Estevão Urbano, que também faz parte do grupo, defende que talvez seja preciso “sentir um pouco mais” os números da pandemia na cidade antes de determinar alguma flexibilização no comércio e na circulação de pessoas.
“Tenho um pouco de receio de uma abertura muito rápida, mas (a minha opinião) pode mudar. Sabíamos que seria muito complicado (fazer o fechamento em 6 de março), que ia demorar mais para os números abrirem um pouco. Estamos falando de variantes agora, não da cepa original. Porém, conseguimos evitar que pessoas morressem sem assistência. Houve um colapso, mas não houve mortes sem atendimento. Belo Horizonte diminuiu nos números enquanto o Brasil, em média, vem piorando. A situação continua crítica. Hoje tivemos quase 4 mil mortes de novo, um número absurdo. BH, felizmente, está declinado”, defende.