Ameaças em escolas

Especialistas alertam sobre riscos na internet e importância da presença de pais

Um adolescente de 14 anos foi apreendido em Governador Valadares por fazer parte de um grupo que planeja ataques em escolas de todo o país

Por Rayllan Oliveira
Publicado em 24 de agosto de 2022 | 13:48
 
 
 
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"A pessoa não é violenta, ela se expressa como violenta apenas para fazer parte de um grupo social". A afirmação é do advogado criminalista e pesquisador em segurança pública Jorge Tassi e considerada por ele como um dos fatores que podem estar relacionados a apreensão de um adolescente de 14 anos, em Governador Valadares, na região do Rio Doce, em Minas Gerais. O menino foi apreendido por fazer parte de um grupo que planeja ataques em várias escolas do país.

Para o especialista, o comportamento deste adolescente pode estar relacionado a vários fatores, que vão desde problemas psicológicos como genéticos e do ambiente em que vive. "O ideal em casos como esse é que os pais acompanhem seus filhos e não criem a fantasia de que isso não pode acontecer com os seus", sugere o pesquisador.

Segundo Tassi, um dos desafios para os pais é o de conseguir acompanhar seus filhos no ambiente virtual. "Todo mundo precisa ter seu ambiente privado, particular. É necessário que os pais respeitem o momento dos filhos, mas que consigam discutir com ele o ambiente online", aponta.

O adolescente de Governador Valadares relacionava pela internet com um grupo formado por pessoas de vários estados do Brasil. Eles planejam ataques em escolas, semelhantes ao ocorrido na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP),  em março de 2019. Na ocasião, um adolescente e um homem encapuzados atacaram a unidade de ensino e mataram sete pessoas. Em seguida, um deles atirou no comparsa e, então, se suicidou.

Segundo o delegado da Delegacia de Homicídios da Polícia Civil de Governador Valadares, Mario Bento Costa, responsável pela operação que terminou com a apreensão do adolescente, o grupo organizava a compra ou aluguel de armas de fogo e tinha como intenção transmitir todo o ato. "Ele se comunicava com grupos na internet. Ainda não se sabe se ele foi procurado ou foi ele quem procurou pelo grupo", conta o delegado.

Os pais do adolescente foram surpreendidos com o envolvimento do filho com o grupo. Para o advogado criminalista e pesquisador em segurança pública Jorge Tassi, essa situação é comum e os pais não devem se sentir culpados quando isso ocorre. "Os filhos não se abrem e sentem vergonha de contar", explica o especialista que aponta a resistência por parte das crianças e dos adolescentes como um desafio. Tassi acredita que não existe uma fórmula para superar esse obstáculo, mas a prevenção está no relacionamento. "É importante que os pais consigam construir uma abertura com os filhos. Um relacionamento sem fantasias, onde os pais possam falar o que é certo e errado", sugere. 

Para o psicólogo Thiago Dias, essa relação precisa ser construída ainda na infância, de modo que a adolescência, que é um período de transição marcado por fortes mudanças, não seja um dificultador no relacionamento entre pais e filhos. "Quanto mais pressionado o adolescente se sente, mais reativo ele fica e busca reconexão fora de casa", aponta. Segundo o especialista, o caso do adolescente de Governador Valadares pode estar relacionado a problemas psicológicos, como também com a necessidade de pertencimento. "Ele encontra com alguns grupos e não vai se unir a eles pelas ideias, mas para fazer parte", explica. 

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