Um mês depois da ampliação do funcionamento de bares e restaurantes para até as 22h todos os dias em Belo Horizonte, o setor avalia que houve melhoria no faturamento, mas ainda reclama da restrição do horário, que, segundo os comerciantes, é um grande obstáculo na atração de clientes. Representantes da categoria estimam que a última flexibilização, anunciada em 11 de junho, resultou em aumento de 20% a 40% no movimento dos estabelecimentos.

A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou, em nota, que ainda não há previsão de novas flexibilizações para o setor. "A retomada vem sendo realizada de maneira gradual, utilizando como base os indicadores epidemiológicos e assistenciais. O impacto das últimas reaberturas nessas taxas vem sendo monitorado para um possível avanço no processo", diz o Executivo municipal.

O ideal para os comerciantes é que o limite de horário seja eliminado, mas que permaneçam os protocolos de prevenção á Covid-19 nos estabelecimentos, diz o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Matheus Daniel. 

"O horário de 22h é muito melhor do que funcionar até as 19h como estava, mas ele ainda limita muito o faturamento, porque 70% do faturamento é noturno, então a gente ainda está perdendo em torno de 30% do faturamento com o fechamento até as 22h. Como muita gente tem dívida para pagar, isso acaba dificultando esse pagamento", analisa Matheus. Ele ressalta que "a pandemia não acabou", mas que já é possível acabar com a restrição dos horários, mantendo as normas de segurança sanitária.

Outro empecilho para a recuperação do setor, segundo o presidente da Abrasel-MG, é a falta de transporte público à noite, que impede a contratação de pessoal nesse período. 

"A gente não tem transporte noturno. A gente demitiu em Belo Horizonte em torno de 30 funcionários, e temos a expectativa de contratar pelo menos 10 mil até o fim do ano, mas a gente esbarra na falta de transporte público noturno", diz.

Sobre a reclamação da Abrasel-MG, a PBH informou que "as concessionárias estão realizando ajustes diários, para adequação da oferta à demanda de passageiros". A BHTrans tem acompanhado a operação em campo, via câmeras e via sistemas informatizados para monitorar se há descumprimento dos contratos pelas empresas que prestam o serviço, afirmou o município em nota. 

O presidente do SindBares-BH, antigo SindHorb, Paulo Pedrosa tem uma visão otimista do impacto da última flexibilização no setor. "O movimento melhorou de 30% a 40%. Nós começamos a aumentar o número de empregos do setor, que foi muito atingido, porque nós perdemos de 4,5 mil a 5 mil pontos de vendas na capital, e a decisão do prefeito de ocupar calçadas e ruas, mediante licença da secretaria, ajudou muito", diz Pedrosa. Ele garante que tem um canal de diálogo com a prefeitura para "ampliar a abertura até meia noite". 

Para o segundo semestre, Pedrosa acredita que o faturamento dos bares e restaurantes deve superar os números do período pré-pandemia. "A notícia boa é que tudo está caminhando para o segundo semestre ser melhor que antes da pandemia, ou seja, ser melhor que o segundo semestre de 2019. A hotelaria já começa a entrar no positivo, já está cobrindo o custo. Alguns hotéis já começaram a dar lucro, os bares estão crescendo o movimento", avalia.

Sócio do Kanpai, restaurante referência em culinária japonesa no bairro Cruzeiro, Lucas Rocha explica que o atual horário de fechamento quebra o fluxo de clientes no local. "Estamos satisfeitos, apesar do frio, a casa tem ficado muito cheia. A galera estava bem ansiosa para sair de casa. Mas o horário de funcionamento é um limitador. Para mim já não faz mais sentido essa restrição do horário. Hoje, sexta-feira, é um dia que geralmente a casa lotava, às 22h tinha cliente entrando. E isso a gente ainda não tem. Ainda temos um potencial de faturamento melhor do que era antes da pandemia", diz.

Lucas diz que o Kanpai investiu no delivery durante o fechamento e revela que, com essa nova modalidade de entrega, a expectativa é que o faturamento no último mês tenha sido 20% maior que o anterior ao da pandemia.

Outro ponto de encontro da capital dos bares é a rua Alberto Cintra, no bairro União, na região Nordeste da capital. O sócio do Piratas BBQ, Marlon Saraiva, conhecido bar da região, lamenta o período do fechamento, mas confirma a melhora no movimento desde que houve uma maior flexibilização. "Até as 22h ajudou muito, mas o pessoal hoje começa a sair 20h ou 21h, e nesse horário a gente está começando a fechar. Então ajudou muito a gente, mas o faturamento do período que estivemos fechados nunca mais será recuperado", explica.

O Piratas é um dos points preferidos de Rafael Cedro, e ele se diz seguro para frequentar os bares e rever os amigos. "As mesas estão espaçadas, o pessoal tem se comportado bem, tem usado máscara na hora de ir ao banheiro. Eu achei bom a reabertura por causa da questão da socialização. Está fazendo bem para as pessoas reverem seus amigos, ter um momento de lazer, de descontração. Então é bom para quem trabalha, para quem gera emprego e para quem ficou muito tempo em casa e agora pode ver gente, ver a rua", diz.