INVESTIGAÇÃO

Fazendas de MG desmatavam áreas preservadas para produzir carvão, conclui PCMG

Ao menos nove toneladas de carvão ilegal teriam sido produzidas

Por Bruno Daniel
Publicado em 07 de março de 2024 | 12:29
 
 
 
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Cinco fazendas e três siderúrgicas estão na mira da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) por um esquema criminoso suspeito de produzir carvão e metal de forma ilícita. De acordo com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), ao menos nove toneladas de carvão ilegal teriam sido produzidas. Já o metal era um material secundário, produzido a partir do carvão. 

A investigação teve início em agosto de 2023, após denúncias de que a origem do carvão usado pelas siderúrgicas seria criminosa. O inquérito aponta que as fazendas produtoras de carvão estavam produzindo o material a partir do desmatamento de áreas nativas de preservação ambiental para ter a matéria-prima do carvão. "A maneira lícita é você plantar o eucalipto e produzir a partir desse plantio", explica a diferença a delegada Bianca Landau, que é chefe do Departamento Estadual de Investigação de Crimes contra o Meio Ambiente.

Conforme o diretor de combate ao desmatamento da Semad, Bruno Zuffo, a suspeita é que as fazendas estariam fraudando os documentos emitidos pelo órgão para autorização do plantio de carvão. "O produtor declara o volume de produto, o que vai dar a ele determinado número de guias. Foram emitidas diversas guias sem que houvesse a produção oriunda de eucalipto. Isso é um indício de que ssas guias foram utilizadas para transporte, consumo e armazenamento de carvão de origem nativa. Houve utilização dessas guias para transporte, consumo e armazenamento", esclarece.

A Polícia Civil suspeita que as empresas de siderurgia sabiam que o carvão utilizado era de origem ilegal. Ainda de acordo com a instituição, já estão configurados os crimes ambientais de supressão de mata nativa, produção de carvão de origem nativa sem autorização dos órgãos competentes e receptação de carvão de origem nativa. Juntas, as penas podem chegar a até seis anos de prisão.

A Semad não soube dizer com exatidão quais biomas e quantos hectares de mata nativa foram degradados. "É difícil dar essa informação. A gente não sabe de onde especificamente o carvão produzido saiu. Não sabemos se é só no Cerrado ou só na Mata Atlântica e as diversas ecologias que têm dentro desses biomas. Isso interfere muito no volume, pois tem uma tipologia florestal que tem maior porte e produz mais carvão", explica Bruno Zuffo.

Outros crimes são investigados

Agora, o objetivo da Polícia Civil é investigar outros crimes no entorno do esquema. Foram cumpridos em oito cidades mineiras 13 mandados de busca e apreensão. Neles, foram recolhidos documentos, celulares e computadores que serão analisados para identificar outros crimes, como falsidade ideológica, associação  criminosa e lavagem de dinheiro. 

Somados com os crimes ambientais apontados pela PCMG, esses delitos podem render até 20 anos de detenção. De acordo com a Polícia Civil, não houve nenhuma prisão até o momento porque os crimes ambientais - os únicos já configurados - têm pena baixa, e a lei só permite prisão cautelar em investigação de crimes com penas mais altas.

Por quê operação Origem? 

O nome da operação remete à suspeita de que as fazendas teriam ocultado a origem ilegal do carvão produzido.

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