Cinquenta mil pessoas são esperadas nas ruas de Três Pontas, município ao Sul de Minas Gerais, para as comemorações do aniversário de morte do beato Padre Victor, segundo a associação à frente do festejo. Há exatos 114 anos, em 23 de setembro de 1905, morria Francisco de Paula Victor, primeiro clérigo ex-escravo do Brasil. 

A fé dos trêspontanos e católicos de todo o país diante dos milagres do padre é tanta que a cidade se volta para os festejos religiosos ao longo dos oito dias que antecedem o aniversário. Aliás, não à toa, nesta segunda-feira (23), o comércio e serviços públicos não estão abertos: há um decreto de feriado municipal. 

As procissões e novenas em homenagem ao beato acontecem há, pelo menos, duas décadas, quando fundou-se a Associação Padre Victor, em Três Pontas. No entanto, de quatro anos para cá, quando o Padre se tornou beato consagrado pela Igreja Católica, a movimentação na cidade durante o festejo aumentou. Agora, Padre Victor aguarda processo de canonização. 

"Depois da beatificação, as novenas se tornaram mais frequentadas. Aqui é um feriado municipal e eu vou falar uma coisa para você, o pessoal de Três Pontas ama o Padre Victor. Só de voluntários na parte religiosa da festa, recebemos mais de 400 todos os anos. Três Ponta negou aquele ditado, 'santo da Terra não faz milagre', o nosso faz, sim. Aliás, o Padre é o 'anjo tutelar de Três Pontas'", explica Cida Carvalho, tesoureira da associação. 

Para este ano, os ritos religiosos com homenagens a Padre Victor seguem o tema "batizados e enviados: a Igreja de Cristo em missão no mundo". A proposta é referente ao ano missionário. "A cada ano, o papa Francisco estabelece uma carta com um direcionamento às igrejas. Esse ano é para enfatizar a nossa missão, o trabalho na evangelização, pontua Cida. 

Veja mais fotos do evento. Crédito: Conexão Três Pontas / Jornalista Roger Campos

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Milagre

A beatificação é concedida a uma pessoa que intercedeu pelas outras ao longo de sua vida e, para obter o título, é preciso ter um milagre associado a ela. Um segundo milagre, por sua vez, garante a condição de santo. 

É reconhecido pelo Vaticano o milagre operado a Maria Isabel de Figueiredo. Aos 33 anos, recebeu o diagnóstico de que não poderia ter filhos: possuía apenas uma das trompas e esta era obstruída.

Durante uma novena, ela pediu para que o clérigo por ela intercedesse e lhe garantisse um filho. Descobriu que estava grávida de Sofia em 2010, um ano após o pedido. Aos 37 anos, quando o padre foi beatificado, deu à luz sua segunda filha, Alice. 

Pedidos incontáveis

Ao longo de todo ano, fiéis depositam pedidos a Padre Victor em urnas espalhadas por todo o município de Três Pontas. Ao fim do mês, os papéis são levados à praça na frente da Igreja Matriz e queimados para que a fumaça chegue aos céus. 

"Nós juntamos esses pedidos que ficam nas urnas de todas as igrejas, não tem jeito de contar quantos são, sempre enchem as urninhas todas", comenta Cida. 

História

Cinquenta e três é o número de anos em que Padre Victor se manteve à frente da paróquia de Três Pontes. Após sua morte, o corpo do primeiro clérigo ex-escravo do Brasil, ficou insepulto ao longo de três dias. 

Histórias no site oficial da prefeitura da cidade contam que do corpo do padre exalava perfume e foi necessária toda uma volta no entorno do município para comportar os fiéis que seguiam a procissão.