Um antigo golpe cibernético que usa nomes de professores universitários de grandes instituições de ensino do país ressurgiu nos últimos meses e mira agora acadêmicos de Minas Gerais. Os e-mails bem elaborados e repletos de referências a profissionais conhecidos no meio educacional são um convite para boas oportunidades de trabalho temporário com remuneração de até R$ 980 por dia. Mas as investidas não passam de uma tentativa de arrancar dinheiro dos interessados, já que, para garantir a suposta vaga, as vítimas são induzidas a fazer um depósito de R$ 150 na conta bancária do estelionatário.
A professora e doutoranda em estudos de linguagem Erika Cristina Dias Nogueira, 33, foi alvo da primeira investida do golpista no dia 7 de fevereiro. Ao checar a caixa de entrada do email, ela se deparou com uma correspondência eletrônica supostamente assinada por uma professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e com referências a profissionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a cursos do Ministério da Educação (MEC). “O texto tinha dados, currículo, nome completo de professores que realmente existem. Colocou dados da universidade que são corretos e vários outros instrumentos para dar credibilidade”, descreveu Erika.
A riqueza de detalhes quase fez a pesquisadora, que é especialista em comunicação digital, acreditar que se tratava de uma oportunidade de trabalho. “Fiquei na dúvida porque os golpes que estou acostumada a ver não são parecidos com esse”, observou. Mas dois detalhes chamaram a atenção de Erika. “A pessoa não usava um email institucional e, quando respondi ao primeiro contato, houve uma insistência muito grande para que eu efetuasse o pagamento com urgência”, contou a vítima, que não fez o depósito e decidiu registrar um boletim de ocorrência. Ao questionar colegas sobre o e-mail, soube que outros professores universitários também receberam a mesma correspondência.
O golpe, que também é aplicado em outras regiões do país, como Sul e Nordeste, fez com que a UFPR divulgasse nota em janeiro para alertar sobre o crime. A instituição informou que “não realiza seleção de candidatos dessa maneira e não mantém banco de cadastro de currículos”. A universidade esclareceu ainda que os processos seletivos da universidade ocorrem por meio de edital público. Já a UFRGS comunicou que o caso é acompanhado por seu setor de segurança da informação e que analisa o material para buscar a origem do conteúdo falso.
Orientações
A Polícia Civil ainda não registrou outros casos de crime cibernético envolvendo os nomes dos professores que aparecem no e-mail elaborado pelo golpista. Por meio da assessoria de imprensa, a corporação orientou que vítimas façam o boletim de ocorrência ao receberem um e-mail suspeito para que seja possível iniciar uma investigação e localizar os estelionatários.
Para escapar de golpistas, a Polícia Civil orienta que os usuários da internet não abram e-mails desconhecidos ou inesperados e que nunca enviem dados pessoais em resposta a esse tipo de correspondência eletrônica.
Como estudiosa do tema, a professora Erika Cristina Dias Nogueira lembra que é preciso desconfiar sempre quando o assunto é o universo digital. “As pessoas têm de ficar muito atentas. Antes de responder algo, pesquise na própria internet, ligue para a instituição que aparece no e-mail e tente falar com alguém que é citado”, orienta. Para a professora, é preciso que a legislação brasileira evolua para conseguir proteger o usuário no ambiente online. “Precisamos de uma especialização da própria polícia em crimes digitais e mais fiscalização e regras para que o cidadão comum não seja lesado em situações como essa”, avalia.