Um grupo de três pesquisadores da Fundação Hemominas está propondo à Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) o uso de um método de testagem que pode permitir aumentar em até 40 vezes o número de diagnósticos de coronavírus. A técnica que eles pretendem aplicar garante que amostras coletadas de pessoas diferentes possam ser examinadas de uma só vez. O objetivo é proporcionar uma testagem em massa da população, e o método só é válido enquanto o número de casos em Minas Gerais continuar baixo.
Apesar de parecer inicialmente muito complexa, a técnica elaborada pelos estudiosos é fácil de ser colocada em prática, uma vez que para isso são necessários os mesmos equipamentos usados para examinar amostras de sangue e que já existem na Hemominas. A eficácia é comprovada. De acordo com a médica Junia Cioffi, presidente da Fundação, a metodologia pensada pelos pesquisadores Fernando Basques, Milena Batista de Oliveira e Felipe Brito consiste em colocar seis amostras coletadas de diferentes indivíduos em um mesmo dispositivo – chamado “pool”.
O equipamento testa todas elas ao mesmo tempo. Caso a combinação das amostras não reaja ao coronavírus, significa que todas elas pertencem a pessoas que não têm a Covid-19. A segunda hipótese é: caso a conclusão após a mistura seja positiva, quer dizer que uma ou mais amostras ali contidas são de pacientes contaminados. Diante desse segundo cenário, os pesquisadores testam individualmente cada uma daquelas amostras para, por fim, descobrir quais estão infectadas.
“Nós já usamos essa técnica para testar doenças transmitidas pelo sangue. Com esse conhecimento, os pesquisadores aplicaram essa metodologia para testar o coronavírus. Quando são testadas mais amostras de uma só vez, você consegue testar um número maior de pessoas. Ele é principalmente útil para possibilitar a ampliação da testagem da população”, esclarece Cioffi, que também é hematologista.
Esse tipo de testagem em grupo das amostras é principalmente satisfatório quando o número de casos existentes em determinada região ainda é considerado pequeno, uma vez que se acredita que a maior parte das misturas testará negativo para o coronavírus. Minas Gerais enquadra-se no pré-requisito: são 3.733 casos confirmados até o momento segundo balanço mais recente da SES. A técnica também é eficaz para ajudar a reduzir a subnotificação de casos – apesar de ser pequena a quantidade de pacientes com diagnóstico positivo para a Covid-19 em Minas, o número de casos que ainda precisam ser testados é altíssimo e ultrapassa a casa dos cem mil.
“Essa é uma possibilidade de ampliar a testagem na população. Agora estamos vivemos um período de baixa incidência (de casos de coronavírus) aqui no Estado, por isso a testagem através do pool é eficaz para ajudar na investigação epidemiológica. Quando existe alta incidência, ele não é eficaz, porque muitas amostras vão dar positivo, então, com isso, mais testes individuais terão que ser feitos depois de elas serem submetidas ao pool”, explica a médica.
Segundo ela, já existe uma conversa entre a Fundação Hemominas e a Secretaria de Saúde para identificar como o procedimento pode ser aplicado. “Um comitê está avaliando onde esses testes serão feitos e quais grupos de pessoas serão testados. Nós estamos identificando o que precisamos em termos de insumos para que a SES disponibilize. Acredito que será rapidamente incorporado e implantado”, detalha.
Apesar de o procedimento inicialmente ter custo elevado, o fato de a Fundação Hemominas já ter os equipamentos necessários auxilia na redução de gastos. “Como faremos muitos testes de uma vez só, os custos acabam caindo. O que precisaremos é de mais pessoas para realizar os procedimentos, lembrando que nós continuamos testando, por exemplo, o sangue dos doadores”, conclui.
Investigação na UFMG
Uma força-tarefa composta por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também pretende ampliar a escala de testagem para coronavírus a partir de uma técnica semelhante à da Fundação Hemominas, mas que também se aproveita da adaptação de um método matemático. De acordo com a universidade, o método proposto pelo grupo possibilita que até cem diagnósticos sejam feitos com apenas sete testes.
O estudo está sob análise dos grupos técnicos das secretarias de Saúde de Belo Horizonte e de Minas Gerais, segundo informou o professor Ricardo Takahashi à agência de notícias da UFMG. A aplicação da técnica é muito semelhante à do Hemominas, que testa individualmente apenas as amostras em que há resultados positivos. Ainda de acordo com a universidade, o modelo só é efetivo quando o percentual de pessoas contaminadas ainda é baixo.