O homem de 36 anos apontado como suspeito de degolar a filha da ex-mulher, de 19, no Morro do Papagaio, em Belo Horizonte, se apresentou nessa terça-feira (12) à polícia e confessou o crime. 

Segundo a delegada Ingrid Estevam, do Núcleo Especializado de Investigação de Feminicídio, a vítima tinha sido abusada aos 9 anos de idade, logo no início do relacionamento da mãe com o autor. Depois disso, o convívio entre os dois se tornou bastante conflituoso - ele se referia a jovem como 'fruto do pecado', por ser de outra relação da companheira.

No domingo passado, Dia das Mães, ele matou a jovem com brutalidade.
De acordo com a Polícia Civil, o homem premeditou o assassinato. Ele comprou um facão na sexta-feira (8), dois dias antes do crime, e perguntava insistentemente à ex-mulher a que horas a filha iria visitá-la no Dia das Mães, segundo a delegada. 

"A menina estava sentada no sofá de cabeça baixa, distraída, usando o celular, quando ele chegou por trás com um facão e desferiu um golpe no pescoço. A perícia informou que a cabeça dela ficou presa apenas pela pele", relatou a delegada Ingrid Estevam. 

No momento do crime, estavam na residência a mãe da vítima e quatro crianças, sendo três filhos dela e um da vizinha. Uma delas, irmão da jovem assassinada, tentou acordar a irmã, que estava morta, de acordo com a delegada.

Após cometer o crime, o investigado fugiu para a casa de um irmão para expirar o período do flagrante. O homem estava sendo ameaçado de morte por traficantes do Morro do Papagaio, o que contribuiu para que ele se apresentasse à polícia. Porém, a Polícia Civil já havia feito o pedido de prisão do suspeito à Justiça logo que foi comunicado do feminicídio. Ele está preso temporariamente.

Histórico de conflitos

O acusado teve um relacionamento com a mãe da vítima por 10 anos, mas há dois estavam separados e vivendo na mesma casa. Quando eles se conheceram, a vítima tinha 9 anos e, na adolescência, ela relatou que teria sido abusada pelo homem. Desde então, os dois tinham uma relação conflituosa, porque o autor não aceitava o fato de a menina ser filha de outro homem. "A família toda sabia do ódio que ele carregava em relação à vítima. Em todo momento que ele se referia a ela ele falava "aquela mulher", e não o nome dela.  Em algumas situações, ela nem dirigia a palavra a ele. Por conta da jovem ser filha de outro relacionamento, ele se referia a ela como "fruto do pecado" e dizia que iria matá-la com um facão", relatou Ingrid Estevam, baseando-se em relatos de testemunhas à polícia. 

Ameaças.

Testemunhas disseram à delegada que o suspeito ameaçou matar a menina em diversas ocasiões.  "Ele havia comentado que a intenção dele era executar a menina com uma faca e que para matar tem que ser com facão, porque aí você se apresenta após dois ou três dias e não dá nada. Bobo é o homem que mata a mulher no tiro", relata a delegada.

Após o termino com o investigado há dois anos, a mãe da vítima começou a se relacionar com um outro homem, com quem teve uma filha, que também foi ameaçada pelo suspeito, segundo a Polícia Civil, também porque a bebê seria "fruto do pecado".

"Ele já havia pedido para um dos filhos esfaquear a filha dela no berço, para você ver o ódio que ele tem pelas filhas da ex-mulher. Então, o objetivo maior da repressão a esse grave crime é resguardar não só a mulher e as testemunhas, como a filha menor, que corre risco caso ele seja solto", destaca a delegada Ingrid Estevam.

Feminicídios em Belo Horizonte.

O delegado Emerson Morais, Chefe da Divisão Especializada em Investigação de Crimes Contra a Vida (DICCV), repassou à imprensa dados sobre os 19 casos de feminicidios ocorridos em Belo Horizonte no ano passado. Ele fez um apelo para que as mulheres agredidas busquem ajuda na polícia. 

Segundo dados do Centro de Inteligência e Análise da Polícia Civil, 98% das mulheres assassinadas na capital mineira não tinha nenhuma medida protetiva contra seus agressores. "Se as mulheres não registrarem essas agressões, não pedir apoio ao poder público, a gente não consegue prevenir ações nesse sentido", diz o delegado.

Perfil das vítimas.

O delegado informou que 35% das prisões foram feitas por prisão em flagrante delito. E 25% das vítimas eram jovens, com idade entre 21 e 25 anos, e 53% das mulheres assassinadas eram pardas, e 25%, negras. Em 92% dos casos, os autores eram homens e na maioria dos casos por motivo passional. 

O material usado pelos autores dos crimes também foi analisado pela Polícai Civil. Em 44% dos casos foi usada faca, e em 28%, arma de fogo.