Hospitais pediátricos do Sistema Único de Saúde (SUS) em Belo Horizonte passaram a virada do ano de 2021 para 2022 lotados com demora de até 12 horas para atendimento, conforme apurou a reportagem de O TEMPO.

Relatos de familiares narram preocupação e cansaço nos hospitais João Paulo II, no bairro Santa Efigênia, região Centro-Sul da capital, e Padre Anchieta, no São Francisco, na Pampulha.

A orientadora social Adriana Rodrigues Barbosa de Brito, de 36 anos, e a família, mal aproveitaram a chegada do ano novo, e já na madrugada deste sábado (1º), precisaram correr para uma unidade de saúde.

O filho dela, de seis anos, apresentou quadro de febre alta e persistente. Sem pensar duas vezes, a mulher saiu de Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte, às 4h da manhã, para buscar atendimento no Hospital João Paulo II, no bairro Santa Efigênia, Centro-Sul da capital.

No entanto, chegando ao local, por volta das 5h30, ela recebeu a informação de que, neste sábado, em toda a unidade de saúde há apenas um médico trabalhando. Por isso, só seriam atendidas prioritariamente crianças com quadros clínicos considerados graves de acordo com a triagem hospitalar. 

Para os demais, o tempo médio de atendimento era de cerca de quatro horas. Com medo de voltar para casa e o estado de saúde do filho piorar, a mulher aguardou. Com o menino nos braços, a orientadora social recebeu auxílio médico ao meio-dia.

"Meu filho só foi atendido e medicado porque esperei quase sete horas pelo médico. Com os remédios, a febre dele baixou. Agora vamos para casa e, se Deus quiser, ele vai melhorar. Precisar de um médico no atendimento público está cada vez pior," desabafou.

A auxiliar de produção Stefany da Silva, de 28 anos, mora em Ribeirão das Neves, também na região metropolitana, e, assim com Adriana, madrugou no hospital para conseguir atendimento para o filho, de quatro anos. Ela chegou no centro de saúde por volta das 7h da manhã e saiu por volta de 12h30 sem diagnóstico claro.

"Hoje esperei quase seis horas para meu filho ser atendido. Há mais de um mês ele apresenta febre e ninguém sabe o porquê. Na última semana esperei com ele aqui quase 10 horas, entre espera para atendimento e recebimento de cuidados. Com os remédios receitados hoje, espero que meu filho melhore. Estou cansada!", lamentou.

Mais problemas

A dona de casa Isla de Oliveira, de 24 anos, passou o Natal e a virada do ano nos corredores do Hospital João Paulo II. A filha dela, de quatro anos, está internada há mais de uma semana no centro de saúde para estabilizar diabetes.

A mãe, que mora na região do Barreiro, reclama que a ala pediátrica está superlotada, e a maioria das crianças possuem doenças respiratórias, e não existe separação no local entre os pequenos. 

A filha de Isla divide um quarto com outras quatro crianças com problemas respiratórios. Segundo a dona de casa, a maioria delas está com bronquiolite - inflamação dos pulmões. 

"Ontem fizeram teste de Covid-19 na minha filha porque ela começou a tossir. Minha menina está no meio de muitas crianças com gripe ou com bronquiolite. Como eu estou acompanhando-a, e amanheci com dor de cabeça e tosse, vou fazer hoje o teste de Covid-19. É um absurdo entrar em um hospital para tratar seu filho e você ficar com medo que ele ou você saia com algo pior", criticou.  

Outra unidade superlotada

O Hospital Infantil Padre Anchieta, no bairro São Francisco, na região da Pampulha, também está lotado. Por lá, o tempo de espera não ultrapassa uma hora. No entanto, pais reclamam que no local os pediatras não estão medicando as crianças. Os responsáveis pelos pequenos têm que comprar o remédio para ser administrado em casa. 

A assistente fiscal Eliane Marques, de 40 anos, acordou cedo para garantir que a filha, de três anos, fosse atendida. Elas moram na região de Venda Nova. A menina dores no corpo e desconforto respiratório durante a madrugada deste sábado.

"Minha filha está gripada. A maioria das crianças que estão aqui estão com sintomas de gripe. Demorei 40 minutos na espera por um médico. Achei ruim que, aqui, não estão medicando as crianças, vou ter que comprar o remédio e dar em casa. Se minha filha não melhorar, vou ter que voltar para cá", avaliou. 

Com medo de encarar a superlotação e expor a filha, de dois anos, à Covid-19 ou a alguma gripe forte, o assistente de departamento pessoal, Jones Fernandes, de 23 anos, que mora em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, relutou em levar a criança ao hospital. Desde a última terça-feira (28), a menina sofre com vômito e diarreia. "Hoje, ela piorou. Então, fui obrigado a trazê-la até o hospital. As unidades estão todas lotadas, estou com medo da Covid-19", declarou o assistente de departamento.

Fhemig

A Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), que coordena e administra os hospitais públicos da capital esclarece que "o aumento da demanda por atendimentos pediátricos, por conta da sazonalidade de doenças respiratórias, ocasionou uma espera maior do que a habitual no pronto-atendimento do Hospital Infantil João Paulo II (HIJPII). A escala de profissionais da unidade encontra-se completa e a capacidade de atendimento foi ampliada," pontuou a nota.