Sofia Feldman

Hospital restringe internações

Transferência de mães com risco de parto antes do oitavo mês é barrada pela primeira vez

Por Tatiana Lagôa
Publicado em 01 de novembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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Com 15 leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) neonatal fechados, o Sofia Feldman parou de receber transferências de grávidas com chances de ter o parto antes da 34ª semana gestacional, ou seja, com menos de oito meses de gravidez. Os prematuros extremos, como são chamados, só serão atendidos quando chegaram à maior maternidade do Estado – em número de partos – em casos de urgência.

“Nós não podemos aceitar a transferência dessas grávidas porque não temos leitos de UTI para acolher esses bebês. Claro que quando elas chegam aqui ao hospital passando mal não saem sem atendimento. Mas quando outras instituições ligam, começamos a recusar”, conta a gestora da linha de políticas institucionais do Sofia, Tatiana Coelho. Segundo ela, essa é a primeira vez na história do hospital que precisaram limitar a idade gestacional para atendimento.

Situação que pode se agravar ainda mais com o possível fechamento de mais sete vagas na UTI para bebês em risco. A medida deverá ser tomada neste mês, caso não haja um socorro financeiro para o hospital, que enfrenta grave crise financeira. Outros 15 já foram desativados desde março, como mostrado pelo jornal O TEMPO. Caso mais vagas sejam de fato fechadas, o hospital passará a atuar com menos da metade da capacidade para alto risco que, em condições normais, é de 41 vagas.

E cada vez menos crianças podem ter as vidas salvas no local. A queda no número de internações mensais de bebês na UTI do Sofia já foi de 25% neste ano, passando de 86 por mês para 64. “A situação do hospital fica cada vez pior. Com os 41 leitos, tínhamos condições de internar até 90 pessoas por mês. Com os fechamentos, só 45 bebês poderão dar entrada na UTI mensalmente”, diz Tatiana.

A previsão de redução dos atendimentos assusta gestantes que, em risco, dependem do hospital para manter os filhos em segurança. É o caso de Paula Gracielle Alves da Silva, 31, que foi transferida do hospital de Nova Serrana para o Sofia por causa do grande volume de líquido amniótico. “Na minha cidade, eles falaram que tinham que tirar meu bebê. Mas, aqui, eles me mostraram que não havia necessidade”, conta. Grávida de 37 semanas, ela está na Casa da Gestante do hospital aguardando o momento do parto. “Esse hospital salva vidas”, afirmou.

Letícia Silva Xavier, 20, que está grávida de 36 semanas, também está assustada com a situação. “Cheguei aqui em risco por causa de uma pré-eclâmpsia (distúrbio que causa hipertensão na gravidez). O Sofia salvou a mim e a minha filha”, conta.

 

Sem salários, profissionais vão embora

Sem receber salários há dois meses e completando o segundo ano sem o 13° salário, os profissionais do Sofia Feldman estão abandonando o hospital. Só neste ano, a maternidade perdeu na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) 12 dos 30 médicos, 16 dos 28 fisioterapeutas, além de mais de cem enfermeiros.

A falta desses profissionais é um dos principais motivos para o possível fechamento de sete leitos previsto para este mês. “Se não temos profissionais, não podemos manter bebês nas unidades”, afirma a gestora do Sofia, Tatiana Coelho.

Além disso, faltam medicamentos e insumos. Tudo isso é reflexo da crise vivida pelo hospital, que tem uma dívida histórica de R$ 120 milhões e um déficit mensal de R$ 1,5 milhão.

 

Governos não garantem solução no curto prazo

A maternidade Leonina Leonor, que fica na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Venda Nova, não tem data para reforçar a assistência às grávidas em Belo Horizonte. O prefeito da capital, Alexandre Kalil (PHS), chegou a prometer que o hospital seria inaugurado em julho deste ano. Mas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, “a abertura dessa maternidade não é prioridade devido às definições para uso do orçamento destinado à saúde”.

Quanto ao Sofia Feldman, a pasta disse que encaminhou pedido ao Ministério da Saúde para aporte adicional de R$ 18 milhões. O Ministério alega que “não repassa recursos diretamente a nenhuma instituição”. E a Secretaria de Estado de Saúde informou estar se esforçando para quitar a dívida de R$ 6,3 milhões que deve ao Sofia.

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