Inalar desodorante pode ter efeito similar ao de drogas como lança-perfume e loló, quando em contato com o organismo de crianças. As consequências dessa prática, incentivada por vídeos na internet, cujo o objetivo é fazer com que as pessoas inalem a maior quantidade possível de desodorante aerossol, podem ser diversas e vão desde irritações até a morte. "O aerossol é composto por diversos gases e quando as crianças inalam, eles se juntam aos glóbulos vermelhos. A partir disso, ao invés do sangue transportar oxigênio, ele vai transportar esses gases, o que ocasiona a intoxicação", explica a capitã do Corpo de Bombeiros, Thaise Rocha.

Para a capitã, os atendimentos a crianças que inalam desodorante são rotineiros e preocupam. "Infelizmente acontece e é mais comum do que a gente gostaria que fosse. Por isso é importante que os pais supervisionem e orientem as crianças sobe o uso correto destes materiais", sugere.

De acordo com o levantamento feito pelo DataSus, do Ministério da Saúde, Minas Gerais é o Estado com o maior registro de internações de crianças de até 14 anos por intoxicação no país. O estudo apontou que foram 745 internações no Estado somente em 2020. Em São Paulo, que está na segunda colocação, foram 722.  

  Na noite da última quinta-feira (25), um menino de apenas dez anos morreu intoxicado após inalar desodorante dentro de uma guarda-roupa em Belo Horizonte. João Victor Santos Mapa inalou mais de meio frasco de desodorante após assistir um vídeo de um desafio que viralizou na web.

"Ele gostava muito de internet e assistia os vídeos na televisão", contou o pai do garoto, o autônomo Fabiano Teixeira Santos. O pai disse que fazia o controle do uso do celular, mas que o filho poderia acessar a internet pela televisão, já que ela estava em um espaço do convívio de todos. "Eu peço para que todos olhem e tomem cuidados com seus filhos. A internet oferece muitas coisas boas, mas também tem coisas ruins", orienta o pai, que também cobra das autoridades ações voltadas para este tipo de conteúdo.

A capitã do Corpo de Bombeiros Thaise Rocha aponta que o caso serve de alerta para a necessidade da supervisão dos pais e também quanto aos ricos no ambiente doméstico. "Quanto menor a criança, mais perto precisa estar a supervisão. E o que a gente orienta é que as crianças fiquem sob orientação dos responsáveis, sempe dos adultos e não de outras crianças", sugere. A morte de João Victor Santos Mapa ocorreu enquanto ele brincava com os outros dois irmãos, conforme informou o pai do menino.

O velório do corpo do garoto está previsto para a tarde desta sexta-feira (26), em Sabará, na região metropolitana de Belo Horizonte. A cerimônia terá início às 13h e o sepultamento será às 15h.

Ambientes domésticos também oferecem riscos para crianças

O ambiente doméstico, embora pareça um local mais seguro, também está repleto de riscos para crianças e adolescentes. São acidentes que podem ser provocados por móveis, contato com a rede elétrica e também com produtos de limpeza e de higiene pessoal. "O ambiente para a criança deve estar sempre adaptado e seguro. Sem móveis de vidro,  sem alcança a facas e outros objetos e materiais que representam riscos", sugere a capitã do Corpo de Bombeiros, Thaise Rocha.

Para a capitã, os pais precisam estar atentos aos possíveis riscos dentro de casa, além de colocar em local inacessível ou até trancar objetos e materiais que oferecem perigo. "Coloque em um local mais alto, se não for possível, tranque e faça a supervisão. Em todas as casas é importante também não deixar cortinas longas próximas de fios e evitarligar muitas tomadas em um só lugar", aponta. 

Neste mês, a reportagem do O Tempo mostrou alguns casos de incêndio provocados pelo contato das crianças com isqueiros. Em Patrocínio, na região do Alto Paranaíba, uma criança de apenas oito anos colocou fogo na casa onde vive com a família enquanto brincava com um isqueiro. As chamas consumiram um carro que estava na garagem do imóvel. Na região Sul do Estado, na cidade de Boa Esperança, uma criança de três anos também provocou um incêndio enquanto brincava com o disposiitvo. Os quatro moradores ficaram presos e o portão precisou ser arrombado para o resgate. O mesmo ocorreu em Uberlância, no Triângulo Mineiro. A casa de uma família carente, vinda do Haiti, pegou fogo enquanto uma criança da mesma idade brincava com o isqueiro.

"As crianças possuem uma questão de curiosidade, isso é muito comum. O fogo é algo que chama a atenção, assim como a água. Por isso é muito importante que isqueiro, fósforo e outros objetos fiquem fora do alcance da criança", orienta a capitã do Corpo de Bombeiros. Ela também recomenda que os pais conversem com seus filhos e orientem quanto ao uso certo de cada um dos materiais e equipamentos.