A menos de 48 horas da data prevista para o encerramento das atividades no aeroporto Carlos Prates, moradores de bairros vizinhos e usuários do aeródromo convivem com um sentimento de apreensão e com prejuízos financeiros. A população que reside próximo ao terminal, teme que o espaço continue a funcionar e o medo, diante dos acidentes, se estenda pelos próximos meses. Já os usuários do aeroporto, que ainda esperam reverter a decisão, com base no pedido feito pelo Governo de Minas, correm contra o tempo para retirar as aeronaves e os demais bens antes do próximo sábado (1º), data definida para o fechamento do espaço, conforme ofício expedido pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
"Essa indefinição só gera ainda mais tensão para a população. É um processo que já tem muitos anos e todas as vezes que isso acontece, que falam que ele vai fechar, eles prorrogam por mais quatro meses, seis meses, um ano. Nós já estamos em 2023 e ainda não tem uma definição. O convívio com esse aeroporto é desgastante", desabafa o ator Munish Prem, de 58 anos, que desde sempre morou na região Noroeste da capital, situada nas proximidades do terminal. "São 28 anos no bairro Padre Eustáquio e 30 no Jardim Montanhês. A gente convive com a sensação de que a qualquer hora pode cair um avião na cabeça da gente. Esse aeroporto já deu sinais há muito tempo que não tem mais segurança para operar aqui", completa.
A portaria nº 10.074/SIA, que definiu a desativação do aeroporto Carlos Prates, foi publicada no dia 16 de dezembro de 2022. No dia 14 de março, três dias após um acidente com a queda de uma aeronave que atingiu duas casas no bairro que leva o mesmo nome do terminal, o prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD) anunciou a desativação do espaço, prevista para o dia 1º de Abril. O anúncio foi feito após um encontro do chefe do Executivo da capital com membros do Governo Federal. Conforme divulgado, a área será destinada a prefeitura, que pretende realizar projetos de moradias populares, indústrias não poluentes, centros de saúde e outras infraestruturas.
"Isso nos deixou surpresos. Como que uma administração pública toma uma decisão tão rápida?", questiona o empresário Francisco Pio Bessa, de 67 anos, que é dono de uma escola de aviação e de uma oficina que funcionam no aeroporto da região Noroeste da capital. Para o empresário, que ainda se mantém otimista quanto a possibilidade de adiar o encerramento das atividades no terminal, a decisão gerou ainda mais insegurança e prejuízos para quem trabalha e utiliza o espaço. "Hoje estamos em uma verdadeira corrida contra o tempo. Precisamos tornar operacionais aquelas aeronaves que estavam em manutenção. Depois disso, a gente pensa nos outros bens", relata.
Conforme Bessa, desde o dia 14 de março, ele já investiu mais de R$ 100 mil em compras de peças, transporte e serviços de manutenção. "Materiais que a gente conseguia comprar com valores mais acessíveis, nós tivemos que comprar aqui, pagando muito mais. Eu mesmo precisei buscar um motor de uma aeronave minha em outra cidade. Contratei uma caminhonete e depois instalei na aeronave", expõe.
O empresário acredita que uma comissão, envolvendo membros do poder público, representantes do aeroporto e de moradores deveria ser criada antes da tomada de decisão. "Nós entendemos que é uma decisão séria para se tomar rapidamente. É necessário que as autoridades parem para pensar e olhem para o ponto de vista técnico e operacional. Não tem como resolver o problema de uma parte da sociedade, criando um outro para a outra parte", completa.
Com a desativação do aeroporto, cerca de 500 pessoas, entre pilotos, mecânicos e outros prestadores de serviços, deverão ter a vida impactada. Os prejuízos podem ser econômicos, já que parte desse profissionais deverão ser dispensados e os empresários irão precisar transferir cerca de 120 aeronaves. Parte desses veículos segue para o aeroporto da Pampulha, no entanto a área não comporta toda a quantidade. Além destes profissionais, os estudantes das escolas de aviação que funcionam no espaço também terão a vida acadêmica comprometida.
"A minha pergunta é até quando a sociedade será prejudicada para que esses empresários, que são ricos, continuem com seus benefícios? Porque eu tenho que pagar para uma pessoa que tem avião possa utilizar um espaço que é público, mas que não oferece benefício nenhum para a sociedade? Qual a lógica disso?", questiona Munish Prem, de 58 anos, morador do bairro Jardim Montanhês.
O artista, que também é membro de coletivos que pedem pelo fechamento do aeroporto, diz que se mantém confiante de que a decisão do encerramento das atividades no terminal será mantida. "Esse aeroporto é deficitário, não atende a população. E eu acho que é isso que as autoridades irão considerar", aponta.
Fuad de “mão atadas”
"Nós recuamos e ficamos de braços cruzados esperando a destinação que eles vão dar para o terreno. A prefeitura não pode interferir na decisão do Governo Federal". A declaração é do prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), durante um encontro entre membros da PBH e representantes de movimentos populares que querem a desativação do aeroporto Carlos Prates, realizado nesta quarta-feira (29).
A reunião ocorreu um dia depois que o Governo de Minas deu início às articulações junto ao Governo Federal para manter a operação por mais seis meses. O tema chegou a ser alvo de reunião em Brasília na última terça-feira (28). O encontro contou com as presenças do ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França. No entanto, a União manteve a posição de finalizar as operações no aeródromo.