Covid-19

Infectologistas criticam decisão da Conmebol de sediar Copa América no Brasil

Competição será realizada entre 11 de junho e 10 de julho, mas para especialistas além de ser um desrespeito com os brasileiros, essa atitude coloca a população em risco

Por Hellem Malta
Publicado em 31 de maio de 2021 | 19:45
 
 
 
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A Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) anunciou nesta segunda-feira (31), que o Brasil vai ser a nova sede dos jogos da Copa América, entre os dias 11 de junho e 10 de julho. A decisão foi tomada depois que a Argentina abriu mão de sediar o torneio, na noite do último domingo (30), em razão do crescimento da pandemia da Covid-19 no país e após a entidade anunciar a retirada da Colômbia como sede, depois de concluir que o país, agitado por protestos sociais, não reunia condições de receber as partidas do torneio.

Infectologistas ouvidos pela reportagem de O Tempo criticam a decisão e consideram o fato de o Governo Federal aceitar a realização da competição uma falta de respeito com a população e mais um ato desastroso na gestão da pandemia.

“A segunda onda (da Covid) ainda não abaixou, pelo contrário está aumentando. Estamos arriscados a ter um repique da segunda onda. Essa decisão da Conmebol que o governo brasileiro aceitou é um escândalo. Esse momento da pandemia é gravíssimo. Imagina uma copa com pessoas vindo de toda a América e levando diferentes variantes do vírus? Isso é lamentável e nos coloca em risco. Demorou tanto tempo para o governo resolver a questão da vacina e aceita isso de um dia para o outro. É uma política desastrosa”, afirma o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Geraldo Cunha Cury.

Ele ainda ressalta que a vacinação contra a Covid-19 no Brasil está muito lenta. “A nossa vacinação continua muito atrasada, com apenas 10% da população que já recebeu a segunda dose. Ontem (domingo) saiu um estudo feito na cidade de Serrana (SP) onde 95% da população completou a segunda dose e a epidemia foi controlada. Se o Brasil tivesse com a vacinação adiantada nós estaríamos em uma situação absolutamente confortável”, diz.

O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, que também é membro do Comitê de Enfrentamento à Pandemia da Covid-19 da Prefeitura de Belo Horizonte, diz que receber a Copa América no Brasil é cientificamente um absurdo.

“Não há nenhuma defesa científica para isso (sediar a competição). É um absurdo e absolutamente desrespeitoso com todo cidadão que se preocupa com a pandemia. Nós estamos com uma taxa de infecção muito alta, é inadmissível fazer um evento internacional com circulação de atletas, jornalistas de várias nações, com cepas mutantes podendo ser intercambiadas, com chances de contágio no aeroporto, no hotel. A Europa, os EUA estão fazendo alguns jogos com a presença de público, mas lá os números da doença estão baixíssimos enquanto a vacinação está altíssima. Aqui (no Brasil) é ao contrário. Isso é um tapa na cara de todos nós”, diz.

Já o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), escreveu em sua conta no Twitter. “A Copa América no Brasil é um deboche e um desrespeito com as 460 mil famílias em luto no país. A decisão foi tomada exatamente no momento em que a terceira onda se inicia. Como fã de futebol, lamento que o esporte esteja cada vez mais se afastando do povo”.

Com a realização da Copa América no país, o Mineirão seria um candidato natural a uma das sedes dos jogos. Mas, o Governo de Minas informou que não recebeu qualquer notificação da Conmebol para a realização do torneio no Estado. Procurada, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que a cidade “não está entre as sedes escolhidas para receber os jogos da Copa América”.

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