Vale do Aço

Jipes se transformam em trenós 

Jipeiros da capital se reúnem e entregam donativos pelas estradas de terra de MG

Por Bárbara Ferreira
Publicado em 21 de dezembro de 2014 | 04:00
 
 
 
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Para quase mil crianças da zona rural da cidade de Ferros, que fica a cerca de 180 km de Belo Horizonte, no Vale do Aço, o trenó tem forma de jipe, conduzido por Papai Noel. Um grupo de jipeiros da capital usa os 4x4 para chegar a locais inacessíveis a veículos comuns, onde entregam brinquedos e chocolates para os pequenos. A viagem começa depois de Santa Maria de Itabira, na mesma região, onde o comboio se forma e entra na estrada de terra, com diversão garantida. A cada lombada, a adrenalina aumenta, e aos poucos é possível avistar pequenas casinhas no meio do mato. Enquanto os carros vão reduzindo a velocidade, a buzina começa a tocar, e as crianças se aglomeram ao redor dos jipeiros.

 

A chegada do comboio acontece desde 2004 e já é esperada pela criançada, em festa. É possível ver os pequenos correndo em direção à estrada logo que os carros vão se aproximando. Quilômetro por quilômetro, a ação Solidariedade 4x4 alegrou ao menos sete comunidades rurais. Em dois fins de semana de dezembro, o grupo de aproximadamente 20 jipeiros percorreu uma média de 1.000 km de estradas irregulares.

“Eles são conhecidos aqui como os jipeiros de BH. É uma maravilha. Há algum tempo, recebi uma cartinha de uma aluna de 11 anos, contando que o Papai Noel nunca havia deixado nada para ela. Hoje ela vai ganhar um presente”, comemora a professora Sílvia Regina Almeida Duarte, que leciona para as crianças de Cubas, distrito de Ferros.

Os beneficiados, de diversas idades, são colocados em filas e separados por sexo, já que os presentes são personalizados. As bolas são as mais requisitadas, e os kits escolares acabaram antes do fim do primeiro dia.

Projeto. A ideia surgiu em reunião de quatro casais, idealizada pelo advogado Ivan Mercedo Moreira, 54, em 2004, quando o grupo saiu para entregar alguns donativos. No meio da viagem, no banheiro de um restaurante em Itabira, as mulheres fizeram um pacto de nunca mais parar.

“O grupo foi crescendo aos poucos. Cada um foi chamando outros amigos, e quem vem gosta e chama mais gente. Hoje temos cerca de 70 jipeiros, e a viagem é dividida em dois fins de semana”, explica Moreira.

Aprovação
“Um ditado diz que, quando alguém compra um Land Rover, não adquire um carro, mas um estilo de vida”, conta o advogado Ivan Mercedo Moreira, 54. Na família dele, a escolha reverberou no prazer em ser solidário. No Natal, os filhos também aderiram à iniciativa dos pais e participaram das ações solidárias, cada um em seu jipe. O ritual é passado entre gerações, e a esperança da família é de que continue. “Quem participa uma vez volta e chama os amigos”, observa a mulher de Moreira, Erika Moreira, 49.

Desconfiança
A viagem é feita quase toda em família, incluindo casais e criança. Uma das idealizadoras, a administradora Erika Moreira, 49, afirma que isso é fundamental para ganhar a confiança dos beneficiados. “No início, percebia que uma mãe estava sozinha com as crianças, e elas não saíam de casa, com medo. A gente teve que descer do carro, se apresentar, falar que somos uma família e iríamos entregar presentes”.

Planejamento
O trajeto é planejado com antecedência. Além de presentear moradores de Ferros, os jipeiros também param em alguns distritos. Antes, eles combinam com líderes comunitários um horário, no qual os nativos se reúnem com os filhos para receber os presentes em um local predeterminado. O clima é de festa, e a disputa é pela bola mais colorida e pela boneca mais bonita. Ninguém fica sem presente.

Inverno
O grupo também faz outra ação beneficente. A cada dois anos, sempre no mês de maio, os jipeiros entregam agasalhos e cobertores às comunidades carentes de Ferros. Ivan Moreira explica que, como esses itens duram mais de um ano, as entregas podem ser espaçadas. Em 2013, também em comboio, eles foram a Itaipava (RJ) levar água e mantimentos a vítimas de enchentes.

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