O prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) anunciou em entrevista coletiva realizada nesta sexta-feira (26) que a capital retorna à estaca zero no processo de reabertura econômica, com a manutenção apenas dos serviços essenciais a partir de segunda-feira (29).
"Eu gostaria de informar à população de BH que os dados e todo o protocolo da PBH pioraram muito. E nós estamos voltando à fase zero a partir de segunda-feira. Nós só iremos manter os serviços essenciais, como no início da pandemia", informou.
O prefeito não escondeu a contrariedade ao dar a notícia após a cidade se manter no nível dois durante duas semanas.
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"Ninguém está mais triste, mais amolado do que eu. Ninguém avisou tanto que não era férias, que todos deveríamos nos manter em casa, o que não foi feito. Eu disse à minha equipe que nós temos uma linha de números, dados, leitos e certa ou errada ela será mantida", continuou.
O prefeito também não perdeu a oportunidade de rebater adversários que o criticaram pela maneira como encarou a pandemia 100 dias atrás.
"É claro que quando fui alarmista, fui escandaloso, que o bombardeio ia chegar, todos os aproveitadores usaram isso. Então, quero avisá-los: o bombardeio chegou. E vamos tentar controlá-lo", garantiu.
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"Quero dizer à população e repetir: não estamos de férias. Fiquem em casa, denunciem, chamem. As máscaras serão obrigatórias. Foi aprovado na Câmara e serão sancionadas imediatamente", completou, lembrando que haverá multas para aqueles que não usarem o equipamento.
Apesar do retrocesso, Kalil garantiu que o vírus não está descontrolado pela cidade, mas voltou a fazer um apelo pela conscientização da população.
"Estamos em descontrole? Não. Mas podemos chegar perto do colapso e do descontrole. Estou amargurado. Estou triste, mas vamos ver isso lá na frente. Nós pedimos a compreensão. Sabemos da nossa responsabilidade. Eu, como prefeito, peço desculpas a todos aqueles que respeitaram tanto esse isolamento, esse momento, e humildemente peço à população: vamos respeitar à ciência, o que deu certo no mundo inteiro. Não há outro caminho", completou.
Questionado se a prefeitura errou ao iniciar a flexibilização do comércio, em 25 de maio, Kalil disse que a prefeitura aproveitou "uma janela" naquele momento, quando a cidade contabilizava 1.444 casos e 42 óbitos confirmados por Covid-19. Ontem, eram 5.195 casos e 121 mortes. O número de pacientes internados em leitos de UTI exclusivos para Covid-19 subiu 145,7%, de 105 para 258 na mesma comparação.
"Nós demos uma oportunidade, aproveitamos uma janela, que não foi aproveitada pela população. É muito importante que todo mundo saiba que ninguém morreu por falta de atendimento e leito de UTI, por falta de médico, enfermeiro ou intensivista", ressaltou Kalil.
O secretário municipal de Saúde, Jackson Machado, disse que a prefeitura não errou em flexibilizar, uma vez que os indicadores da época permitiam isso. Segundo ele, o aumento na ocupação de leitos de UTI e enfermaria foi um dos principais fatores para o município fechar novamente o comércio. Atualmente, 87% dos leitos totais de terapia intensiva e 71% dos leitos de enfermaria estão ocupados na cidade.
"O que a gente observa não é apenas um aumento do número de casos, há um aumento da gravidade dos casos. E a história da doença nos mostra que as pessoas que estão em enfermaria, às vezes, pioram o estado de saúde rapidamente e demandam CTI", afirmou o secretário. De acordo com Machado, se necessário, a prefeitura pode criar 227 leitos de CTI e 263 de enfermaria em julho, a depender da disponibilidade de novos respiradores.
Outro motivo que levou à prefeitura a retroceder na flexibilização é o crescimento da demanda do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu): eram 50 pessoas por dia na semana passada, número que subiu para 100 nesta semana. Já a taxa que mede para quantas pessoas cada infectado transmite a doença está em 1.09, nível de alerta amarelo. O ideal é que seja até 1. A projeção da prefeitura é que, com a taxa atual, Belo Horizonte terá 17.726 casos de coronavírus em 21 de agosto.
"Pessoas jovens e fortes estão morrendo", afirma infectologista
O infectologista Estevão Urbano, membro do comitê de enfrentamento da pandemia estabelecido na Prefeitura de Belo Horizonte, ressaltou que a experiência tem apontado que pessoas jovens e fortes podem desenvolver formas graves de Covid-19 e, inclusive, morrer pela doença.
"Eu particularmente tenho tido uma experiência grande no tratamento de casos de Covid-19. Pessoas jovens, fortes, fisicamente adequadas estão adoecendo e morrendo, não há garantias. Acreditem que a pandemia existe, que o vírus está aí e que todos nós somos grupos de risco", afirmou Urbano.
Segundo o especialista, o vírus "explode exponencialmente" em reuniões demoradas. "Uma festa, um churrasco, uma reunião contaminam 80% das pessoas naquele ambiente em horas", disse.
Veja a íntegra da entrevista com Kalil, com todos os detalhes sobre o recuo da flexibilização: